Na mesma semana em que a Volvo Cars afirma que não terá mais carros exclusivamente a combustão, estudo projeta que automóveis elétricos responderão pela maioria das vendas globais em 2040
Por George Guimarães
Pelo ritmo adotado nos últimos anos por montadoras, sistemistas e as muitas parcerias delas com startups, era uma questão de tempo, pouco tempo. Mas ainda assim o pronunciamento de Hakan Samuelsson, presidente e CEO da Volvo Cars, no último dia 5, surpreendeu a muitos pela objetividade do discurso, sintetizado na frase: “Este anúncio marca o fim do carro exclusivamente com motor a combustão”.
Minutos antes o próprio Samuelsson avisara, ao vivo para todo o mundo também pela internet, que a montadora de origem sueca, controlada pela chinesa Geely desde 2010, não disporá mais de qualquer novo veículo sem algum nível de eletrificação já em 2019. Utilitários esportivos e automóveis da marca a partir de então até poderão ter motores a explosão – a diesel somente –, mas no mínimo serão híbridos plug-in. A ideia mesmo é que nem essa exceção seja mantida no portfólio da fabricante em um segundo momento.
Assim, motores a gasolina nos novos projetos da Volvo Cars são coisa do passado. Mais: a montadora calcula que venderá 1 milhão de carros eletrificados até 2025 e, para isso, adiantou que lançará cinco modelos elétricos entre 2019 e 2021, dois deles com a marca Polestar, divisão transformada agora em empresa global independente e que desenvolve carros elétricos de alto desempenho.
A decisão da Volvo é uma das mais representativas do que possa vir a ser, de fato, o mundo automotivo nas próximas duas ou três décadas. “Isso diz respeito ao cliente. As pessoas exigem cada vez mais carros eletrificados e queremos responder às necessidades atuais e futuras”, justificou o CEO da Volvo.
No dia seguinte ao retumbante pronunciamento de Samuelsson, outra notícia colocou mais sorrisos nos rostos dos entusiastas dos veículos elétricos. O governo francês revelou que proibirá a venda de todos os veículos a gasolina e a diesel no país em 2040. A própria Alemanha, um dos maiores polos mundiais produtores de veículos, já aprovara no ano passado resolução para proibir a comercialização de veículos novos a diesel ou gasolina bem antes, a partir de 2030, e estabelece que a frota movida a combustíveis fósseis rode até 2050.
Medidas drásticas como as da França ou da Alemanha, além de outras restritivas em importantes mercados consumidores, facilitam a compreensão dos resultados de recente estudo da BNEF, Bloomberg New Energy Finance, que aponta que os veículos elétricos responderão pela maioria das vendas de automóveis novos em todo o mundo até 2040 e representarão um terço de todos os veículos leves de passeio.
O levantamento leva em conta, dentre outros fatores, a esperada queda nos custos de dispositivos e tecnologias necessárias para a eletrificação da frota, como os das baterias de íon de lítio, hoje ainda parcela importante do custo dos veículos. Nos últimos sete anos, porém os preços do componente caíram 73% por kWh e a projeção, com a maior demanda, é de recuo da mesma ordem até o fim da próxima década.
Mais baratos – O estudo também já considerou os planos de eletrificação de veículos revelados pelas próprias montadoras e o número de modelos que projetam colocar nas ruas nos próximos anos. A BNEF diz que identificou que o processo de eletrificação da frota mundial se dará com mais força e rapidez do que a própria entidade calculava um ano atrás. A expectativa agora é de que a tecnologia esteja presente em 54% dos veículos de passeio vendidos em todo o mundo até 2040 – e não mais os 35% calculados anteriormente.
“Vemos um momento de inflexão importante na segunda metade da década de 2020. Os consumidores descobrirão que os preços dos veículos elétricos serão comparáveis ou inferiores aos dos veículos comuns em quase todos os grandes mercados até 2029”, afirma Colin McKerracher, analista de transportes avançados da BNEF.
A entidade calcula que o mercado de veículos elétricos em todo o mundo crescerá de maneira constante nos próximos anos, passando das 700 mil unidades de 2016 para 3 milhões até 2021. Nesse momento, projeta, a BNEF, representará 5% das vendas de veículos leves de passeio na Europa – hoje da ordem de 1% – e cerca de 4% nos Estados Unidos e na China.
Fotos: Divulgação/Empresas