Diante de tantas variantes, especialistas acreditam que a indústria poderá seguir criando veículos diferentes para diferentes mercados
Por George Guimarães
Como será o carro do futuro? Miguel Fonseca, vice-presidente da Toyota, Henry Joseph, vice-presidente da Anfavea e Ricardo Abreu, diretor de pesquisa e desenvolvimento da Mahle, participaram do XXV Simpósio Internacional de Engenharia Automotiva — o Simea 2017, organizado pela AEA em São Paulo — e jogaram luzes sobre as muitas dúvidas que essa pergunta ainda gera até mesmo nas rodas de especialistas.
Durante o painel “O veículo das próximas gerações”, realizado nesta quarta-feira, 13, os três executivos deixaram claro, porém, que não existe uma única resposta. A industria mundial trabalhará com diversas combinações para diferentes mercados. Na verdade, há algumas grandes e poucas vertentes que sabidamente balizarão o desenvolvimento dos veículos — os de transporte coletivos e de carga incluídos — nas próximas três décadas.
As três apontadas com maior segurança: eletrificação, conectividade e autonomia. Todas, porém, têm ainda desafios pela frente, mesmo que os esforços de desenvolvimento venham ganhando novos players e velocidade nos últimos anos e da anunciada disposição de diversos fabricantes de oferecer, em larga escala, pacote amplo dessas tecnologias já no transcorrer da próxima década.
Para os analistas, os veículos do futuro poderão ser diferentes também a depender dos mercados e regiões. É preciso levar em conta quem pagará, ou poderá pagar, pelo desenvolvimento e oferta dessas tecnologias em maior ou menor grau, enfatizam. No caso dos veículos elétricos, exemplifica Joseph, ainda são necessários investimentos para eliminar limitações de autonomia, tamanho e peso das baterias, custos da tecnologia e de sua produção e toda a infraestrutura.
É consenso, porém, que o veículo com alto grau de eletrificação, conceito que compreende não só o powertrain mas também os muitos sistemas e componentes acessórios, terá papel preponderante na produção mundial. A própria Toyota se impôs o objetivo de reduzir em 90% as emissões de seus veículos entre 2010 e 2050 e, para isso, investe pesado nos modelos híbridos.
Miguel Fonseca calcula que, já na década de 40, modelos elétricos e movidos a células de combustível terão participação expressiva na frota global, mas dois terços ainda serão formados por híbridos e modelos com motores de combustão interna. “Mas esse motores não serão necessariamente movidos a combustíveis não renováveis”, pondera o executivo, que revela que a Toyota imagina até carros híbridos com etanol.
Abreu concorda com a projeção do mix de participação dessas soluções tecnológicas para os motores nas vendas globais e reforça que há muito o que evoluir nos motores a combustão. O caso dos propulsores a diesel é exemplar. No Brasil, embora estejam em somente 4% da frota, respondem por 46% da emissão de CO2. E o diretor da Mahle nem arrisca o quanto se pode avançar nesse sentido. “Hoje atingimos um nível de eficiência até 60% maior do que se imaginava há, por exemplo, quinze anos”.
No painel ainda foram debatidos temas mais amplos, como soluções de mobilidade que impactarão os produtos que serão concebidos nos próximos anos. Compartilhamento de veículos, por exemplo — o que pode ser uma preocupação hoje para as montadoras, já que, em tese, limitaria as vendas.
“Mas há estudos que indicam que o faturamento com serviços de mobilidade no futuro poderá ser dez vezes maior do que com a venda de automóveis. Portanto, o que agora vemos como um problema seria também uma oportunidade para os fabricantes”, ilustra Fonseca.
E o executivo da Toyota arrisca até uma interessante visão de curto prazo. Segundo ele, a inteligência artificial é outra vertente importante que deve ganhar corpo rapidamente. “Nem podemos imaginar o nível de inteligência artificial que teremos nos veículos já em cinco anos”, alerta.
Ele diz que não estranhará se em um dia não tão distante o próprio automóvel for capaz de, analisando as condições do trânsito, redefir a agenda de trabalho de seu ocupante, avisar eventuais interlocutores da alteração e seguir para um rumo inicialmente definido como uma segunda ou terceira etapa no descolamento. “Entraremos no carro sem saber para onde iremos, caso ele não nos avise.”
Foto: Divulgação
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