Por Alzira Rodrigues
Após forte e amplo período de recessão, há tempos o setor automotivo não tinha um mês tão recheado de boas notícias como neste setembro. General Motors e Volkswagen anunciaram a criação de um terceiro turno de trabalho — no primeiro caso com a abertura de 700 novas vagas em Gravataí (RS) —, e a MAN contratará 300 novos funcionários em Resende (RJ) até o fim do ano.
Na segunda-feira, 25, será a vez da Toyota, durante a cerimônia que marcará a ampliação de sua fábrica de motores em Porto Feliz (SP), o que por si só já seria uma notícia favorável, anunciar investimentos e novidades em sua linha de produtos, muito provavelmente o Yaris, modelo já vendido na Argentina importado da Tailândia.
Não por coincidência, as boas novas chegam justamente no momento em que o mercado interno começa a mostrar sinais de recuperação mais efetiva, com as vendas médias diárias ultrapassando finalmente a casa das 9 mil unidades, o que aconteceu em agosto e se manteve na primeira quinzena deste mês. No rastro desse princípio de retomada a abertura de 1,1 mil novas vagas no mês passado, retratada no balanço que a Anfavea divulga todo início de mês.
O quadro de 126,3 mil funcionários de agosto foi o maior do ano. Também reduziu o número de empregados afastados do trabalho – agora são 2,9 mil trabalhadores enquadrados no regime PSE, de jornada de trabalho reduzida, e outros 3,4 mil em lay-off. A Volkswagen, por exemplo, antecipou que parte dos funcionários ainda afastados voltará até o fim do ano para a abertura do terceiro turno na fábrica de São Bernardo do Campo, SP, onde já iniciou a produção do novo Polo, que será apresentado oficialmente no próximo dia 26, e que também produzirá o sedã Virtus.
Para o presidente da Anfavea, Antonio Megale, “os números de agosto indicam que as montadoras estão voltando a acreditar no mercado”. A ociosidade ainda é grande, em torno de 51%, e o setor ainda está muito aquém dos números recordes de 2012, tanto em produção como em vendas internas e nível de emprego.
Mas ao menos há indícios de dias melhores e, nesse contexto, favorável mesmo são os números das exportações, que baterão recorde este ano. A expectativa da Anfavea é de que os embarques somem 745 mil veículos, 43 % a mais do que no ano passado, e o faturamento bata nos US$ 12,9 bilhões. As exportações já vinham empurrando a produção para cima, mas por si só não bastavam para alavancar novos investimentos no setor. O que fará a diferença daqui para frente é mesmo o comportamento do mercado interno.
A Hyundai, por exemplo, diz que espera crescimento consistente do mercado brasileiro para definir novos aportes em aumento da produção, “o que pode ocorrer tanto no complexo industrial de Piracicaba, SP, como envolver a construção de nova fábrica em outro local”, como revelou Angel Martinez, diretor-executivo de vendas, marketing e pós-venda da montadora ao AutoIndústria. A Honda, que atualmente concentra sua produção em Sumaré, no interior paulista, tem fábrica pronta na quase vizinha Itirapina e aguarda dias melhores para inaugurá-la.
E há um dado importante com relação à recém-iniciada onda de notícias positivas sobre contratações, suspensão das férias coletivas antes programada para o final do ano – como anunciou a MAN – e criação de novos turnos de trabalho. Como disse Adalberto Momi, diretor geral da Meritor para América do Sul, também em entrevista exclusiva ao AutoIndústria, o fator psicológico tem papel preponderante neste momento do setor: “Notícias boas geram outras notícias boas”. E o mais importante: “Contaminam positivamente os negócios”. É esperar para ver.
Foto: Divulgação
- 2025, o ano da decolagem dos eletrificados “made in Brazil” - 19 de dezembro de 2024
- 2024, um ano histórico para o setor automotivo brasileiro - 19 de dezembro de 2024
- Importações de autopeças avançam 11%, exportações recuam 14% - 18 de dezembro de 2024