Por Alzira Rodrigues
Há exatos dois anos, o clima no setor de transporte era de frustração, a ponto de as fabricantes de caminhões, em sua grande maioria, decidirem não participar do mais importante evento do setor, a então Fenatran 2015. Nada que lembre o que se vê hoje na edição de 2017, marcada por discursos de otimismo, mesmo que moderado, e de previsão de crescimento da ordem de 20% nas vendas de caminhões em 2018.
“O humor mudou”, resume o presidente da Anfavea, Antonio Megale, ao fazer um balanço do que viu nos dois primeiros dias da maior feira de negócio do transporte de carga na América Latina. Em contato com presidentes das montadoras do setor, Megale constatou que já há negócios fechados no evento, além dos que estão sendo encaminhados: “E os números são muito bons”, adianta.
O novo local, o São Paulo Expo, na capital paulista, também favoreceu maior participação das fabricantes de caminhões na exposição. “Foi possível reduzir custos com a montagem dos estandes e as estrelas aqui são os caminhões. A movimentação de público está interessante, tem gente daqui e de outros países comprando. Estamos muito felizes.”
Megale diz que o discurso, assim como o humor, também é outro. “É uma virada. Depois de anos de recessão teremos pequeno crescimento do PIB. As fábricas voltaram a trabalhar, os funcionários voltaram. E ninguém voltou a produzir à toa. As vendas internas estão melhorando, assim como já vinha acontecendo com as exportações.”
Aí surge uma questão antiga no setor. Não há risco de as montadoras voltarem a abandonar o mercado externo caso haja aquecimento do interno? Megale acredita que não. Para ele, as empresas hoje têm uma visão mais clara e sabem que não podem colocar todos os ovos numa única cesta. É importante ter as duas. Assim como também é fundamental, na avaliação de Megale, a busca de uma integração regional maior, com o Brasil abastecendo os países vizinhos ao invés de virem para cá produtos do outro lado do mundo.
Quanto ao momento político do País, o presidente da Anfavea diz que a vocação do brasileiro não é ficar parado. “Ninguém quer mais aquele clima de pessimismo que persistia até recentemente. O que vemos é um processo gradual de organização da população brasileira, tanto é que o endividamento das famílias começou a cair. Há uma disposição de olhar o futuro de forma mais positiva.”
O Rota 2030, a nova política industrial para o setor automotivo, se mostra ainda como mais um ingrediente no horizonte próximo que deverá trazer ânimo e maturidade. O presidente da Anfavea acredita na sua divulgação até o fim do ano, conforme previsto pelo governo e esperado pela indústria: “É uma discussão complexa e será o início de um processo. Questões logísticas, por exemplo, não serão abordadas agora, podem ser definidas mais para frente. Mas não podemos ter retrocesso em relação ao Inovar-Auto e o Rota 2030 vem justamente para definir medidas que garantam novos avanços em eficiência energética, segurança veicular e pesquisa e desenvolvimento”.
Foto: Divulgação/Anfavea
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