Por George Guimarães | george@autoindustria.com.br
A responsabilidade científica e a produção das tecnologias que movimentarão os carros do futuro não dependem mais dos esforços e estudos dos fabricantes de automóveis e sim dos governos. Assim pensa Carlos Tavares, CEO do Grupo PSA e também presidente da Acea, a Associação dos Fabricantes Europeus de Automóveis, que tem inúmeras dúvidas sobre se a eletrificação da frota mundial de automóveis, no nível imaginado por muitos, será possível e até mesmo recompensadora.
Segundo o executivo, que visitou nesta quinta-feira, 22, a fábrica da PSA em Porto Real (RJ), toda a atual movimentação global da indústria automotiva em torno dos veículos elétricos deve-se, sobretudo, de um lado, às decisões e legislações criadas e definidas por deputados no Parlamento Europeu e, de outro, pelo governo da China, que quer fazer do país o líder mundial no desenvolvimento e produção de veículos elétricos, além, claro, de assegurar a condição de maior polo mundial de produção de veículos .
Tavares entende que os níveis de redução de emissões exigidos pelo conjunto de países europeus e políticas públicas específicas já definidas por grandes cidades do continente — como a proibição de circulação de carros movidos exclusivamente a combustíveis fósseis a partir de algum momento das próximas décadas —, forçam necessariamente a utilização da eletricidade. Algumas exigências estão além até mesmo das demandas da Cop 21.
A eletrificação de boa parte da frota mundial, portanto, não guardaria necessariamente relação direta com o conhecimento e a capacidade de desenvolvimento de tecnologias mais eficientes por parte dos engenheiros automotivos. “Há, sim, uma pressão populista, inclusive de representantes de países que não têm indústria automotiva instalada’, alerta o dirigente, que calcula em 12 milhões o número de empregados do setor na Europa.
Uma das muitas preocupações, e vista com muita desconfiança pelo líder da PSA, é a própria oferta básica de energia elétrica. Ele questiona se haverá energia suficiente para abastecer todos os veículos que as montadoras terão de produzir para atender, e escapar de eventuais punições, as restrições de circulação de cada país e também os índices médios de eficiência energética propostos ou já definidos pelo bloco.
Outro alerta: daqui a vinte ou trinta anos, quem deverá responder pela eventual falta de rede de abastecimento desses carros serão os próprios governos. “Afinal não são os fabricantes que devem arcar com essa infraestrutura.”
Sem rede de abastecimento adequada e energia elétrica rigorosamente limpa — que não seja gerada em termo-elétricas a carvão ou em usina nucleares — os consumidores dificilmente se interessarão por um modelo desses e, como consequência, as montadoras, em última análise, não teriam como rentabilizar seu negócio. “O que faremos? Empurraremos os carros para o mercado?”
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Assim, foi imposta uma rampa de desafios aos construtores de veículos na qual eles precisam desenvolver e fabricar produtos que poderão participar do mercado futuro sem a contrapartida de clientes e estrutura adequada assegurados, ou correrão o risco de sumir do mapa, sintetiza Tavares.
“O automóvel como instrumento de mobilidade já está sendo contestado agora. Caberá a nós criar instrumentos que permitirão a utilização dos automóveis no futuro.”
Dentro de casa — A própria PSA já trabalha forte nesse sentido e vem investindo em várias frentes, com parceiros do setor ou não, e em muitos serviços, como aplicativos, programas de compartilhamento e mobilidade, dentre outros.
E até no desenvolvimento de tecnologias próprias para seu programa de eletrificação que ganhará corpo a partir da próxima década, embora já no ano que vem sairão das linhas de montagem europeias modelos elétricos e plug-ins das várias marcas do grupo, inclusive o Corsa da recém-adquirida Opel-Vauxhall, 100% elétrico em 2020.
Muitos fornecedores que abram os olhos, pois a PSA pretende criar e produzir internamente quase tudo que diga respeito aos motores e sistemas elétricos que movimentarão seus futuros modelos. Para usar o termo conhecido do setor: verticalizará sua produção.
“A montadora que não detiver essas tecnologias ficará com o pires na mão. Só não vamos internalizar as células das baterias, pois não somos químicos”, diz Tavares, que questiona até mesmo se as autoridades estão levando em conta todo o processo produtivo e vida útil de baterias no balanço ecológico da frota mundial.
Foto: Divulgação/PSA
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