Por George Guimarães | george@autoindustria.com.br
A avalanche de utilitários esportivos que tomou conta do mercado brasileiro nos últimos três anos deixou, tem deixado e promete deixar muito mais vítimas ainda. Os chamados SUVs soterraram as vendas das stations wagons, dos monovolumes e, pelos emplacamentos de três anos para cá, jogou a pá de cal também sobre os hatches médios.
É flagrante a indisposição das montadoras para abordarem o assunto, mesmo em conversas mais reservadas. Os hatches médios, como preços em faixas acima dos R$ 70 mil e que representavam boa margem de lucro, sucumbiram nos rankings de vendas.
Pior: tudo indica que também sumiram do planejamento dos fabricantes. Antes chamarizes de uma linha inteira, agora amargam papel terciário nas estratégias de produtos. Isso quando estão presentes nelas, pois alguns fabricantes nem pensam em lançar concorrentes para o segmento, mesmo importados.
“Os volumes de vendas, como temos visto no caso dos modelos que ainda estão aí, não justificariam nem mesmo o esforço de marketing de um produto importado, o que dirá produzir um novo carrro aqui”, afirma executivo de montadora, que diz não poder reconhecer publicamente o desinteresse de sua empresa no segmento.
Ele admite, porém, que as razões para isso são comuns a outros fabricantes que também tiraram o pé do acelerador e colocaram no freio do segmento: o conhecido movimento manada das montadoras, desta vez atrás dos utilitários esportivos.
“É histórico: se um segmento está crescendo, a concorrência lança produtos para ele. E aí o segmento cresce ainda mais. E o inverso também é verdade: quanto menos novidades, menos os concorrentes investem e a tendência é encolher. Lembram-se dos monovolumes?”, ilustra.
Modelos como Ford Focus, Chevrolet Cruze, Peugeot 308 e, em especial, o Volkswagen Golf, sonho de consumo de muitos brasileiros desde a abertura do mercado aos importados no início dos anos 90, têm desempenho de vendas anual equivalentes a de poucos dias de apenas um único utilitário esportivo.
Em 2017, por exemplo, os únicos seis modelos classificados pela Fenabrave como hatches médios — Fiat Punto, que já não é mais produzido, e Audi A3 , além dos quatro já citados — somaram exatos 20.235 emplacamentos.
O Cruze foi o líder disparado de vendas, com mais de 36% de participação. A polpuda fatia, porém, foi atingida com apenas 7,3 mil unidades negociadas, média mensal de 610 veículos ou pouco mais de uma unidade por concessionária Chevrolet por mês.
O Focus foi o segundo mais vendido, 4,7 mil emplacamentos, seguido pelo Golf, com 3,9 mil unidades, Punto, 1,8 mil, Peugeot 308, 965 veículos, e pelo A3, que teve 334 unidades emplacadas.
O desempenho raquítico do Golf motivou até ameaça do ex-presidente da Volkswagen no Brasil, David Powels, em meados do ano passado.
Em entrevista, o executivo disse que, se as vendas não reagissem, poderia interromper sua produção aqui. É bom lembrar: desde então nem Golf nem os concorrentes reagiram. Ao contrário.
A comparação com os principais modelos de utilitários esportivos soa quase como uma provocação. Somente o Jeep Compass, líder de mercado em 2017, atingiu 49,2 mil emplacamentos, sete vezes mais do que o Cruze e ainda assim deteve menos de 12% de participação.
O segmento de SUVs somou 414,5 mil veículos no ano passado, 22,3% do mercado interno. A participação dos hatches médios, por outro lado, limitou-se a 1%. Menos do que em 2016, quando atingira 1,9% e apenas um quarto da fatia alcançada em 2013, de 4,6%, quando a onda de utilitários esportivos era uma marola.
A queda sem paraquedas dos hatches, porém, já vem de até mais tempo. Em 2008, uma década atrás, portanto, os médios responderam por 9% dos emplacamentos. No mesmo ano, os SUVs detiveram apenas 6% das vendas. Ou seja: enquanto hoje os hatches têm apenas um décimo do que tinham há dez anos, os SUVs quase quadruplicaram sua presença.
Em tempo: como nada é tão ruim que não possa piorar, as vendas acumuladas dos hatches médios no primeiro trimestre deste ano limitaram-se a 3,5 mil unidades, 0,78% do mercado e a metade do índice alcançado no mesmo período do ano passado.
Do outro lado, a toada também segue a mesma e a participação dos utilitários esportivos chegou a 24,3%, equivalentes a 109,8 mil veículos e quase quatro pontos a mais do que no acumulado de janeiro a março de 2017.
Fotos: Divulgação/Empresas
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