Por George Guimarães | george@autoindustria.com.br
Lançado em 1984 no Brasil como divisor de águas da marca Fiat, o Uno já tem longos 34 anos de produção, mas dificilmente emplacará o trigésimo-quinto. Pelo menos é o que indicam, de forma evidente, os números do hatch compacto nos últimos tempos.
O modelo, que entrou para a história como o primeiro 1.0 do mercado, lançado como versão Mille em 1990, e principal responsável pela vertiginosa ascensão da Fiat nos anos 90, agora é personagem raro na linha de montagem de Betim (MG) — muito mais dedicada a fabricar Argo e Mobi — e ainda mais nas concessionárias. Isso depois de mais de 4 milhões de unidades produzidas.
Com 3,6 mil emplacamentos no acumulado do primeiro quadrimestre, é um figurante nas vendas da marca, que superaram 92,2 mil unidades no período. Ou seja, o Uno representa agora apenas 4% de tudo o que a Fiat vende aqui. De janeiro a abril de 2017, por exemplo, foram negociadas 10,3 mil unidades no varejo, uma queda, assim, de mais de 60% em doze meses.
Em 2014, ano em que o recém-aposentado Palio liderou o mercado com 183,3 mil emplacamentos, o Uno somou 122,2 mil unidades e ficou com o 4º lugar no ranking. Desde então, os números apontam para baixo acentuadamente a cada ano: foram 79,5 mil em 2015, 34,6 mil em 2016 e encerrou o ano passado, quando foi ultrapassado pelo Mobi, com 34,1 mil licenciamentos e já na 16ª posição.
O recorde anual é de 1995: naquele ano foram vendidos 248 mil Uno. A grande maioria, claro, do Mille, que dois antes, embalado pelo advento do programa governamental Carro Popular, que estipulava para categoria preço de US$ 7,2 mil, já gerava filas de clientes nas revendas.
A saída da montadora foi criar o Mille on Line, sistema que, baseado no CPF do comprador, assegurava a ordem dos pedidos, também direcionava a produção e, indiretamente, buscava eliminar o ágio pago pelos consumidores mais afoitos para ter o carro mais barato do País.
Tempos bem distantes e distintos dos últimos meses, quando a decadência comercial do hatch claramente se intensificou. Em abril, foram negociados somente 655 veículos. E ainda assim, levantamento da Fenabrave confirma que a maioria dos Uno é negociada por meio das chamadas vendas diretas. Empresas e frotistas compraram dois terços do total de abril e também do acumulado dos primeiros quatro meses de 2018.
O Uno agora é somente o 42º colocado no ranking de automóveis mais vendidos. Se considerados também os comerciais leves, cai para o discretíssimo 50º lugar em 2018.
Mesmo assim a FCA não confirma oficialmente que encerrará tão cedo a produção daquele que foi seu carro mais vendido tantas vezes, assim como ocultou o fim do Palio, no início deste ano e sem direito a qualquer honraria, até ter montado a última unidade em Minas Gerais.
E nem precisa fazer qualquer estaradalhaço. É claro que, após tantos anos, não resta mais espaço para o Uno na estratégia da montadora. Até porque a FCA investiu alto para modernizar a planta de Betim, agora com nível tecnológico semelhante ao de Goiana (PE), de onde saem modelos Jeep e o Fiat Toro, e não precisaria gastar tanto para continuar a fabricar um carro projetado no início da década de 80 e que ganhou uma nova geração só em 2010.
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Argo, na parte de cima, e Mobi, no segmento de entrada, estão aí exatamente para tentar arrebatar os órfãos clientes do Uno e do Palio. Não conseguiram integralmente. Na verdade, estão bem longe disso, dada a atual participação da Fiat de 8,2% no segmento de automóveis no primeiro quadrimestre.
Fatia equivalente, diga-se, à que marca detinha nos idos dos anos 80, exatamente quando o Uno chegou. No mínimo, uma curiosa ou sugestiva coincidência.
Foto: Divulgação/FCA
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