Por George Guimarães | george@autoindustria.com.br
Nas cidades, ela é, como se costuma dizer por aí, a mosca branca, quase impossível de ser vista nas ruas ou garagens. Mas nas zonas rurais a picape Ram 2500 tem mais prestígio e admiradores do que muitos carros superesportivos.
Esta clara distinção de habitat e preferências se justifica pelas gigantescas proporções desse representante único da marca norte-americana no Brasil: são mais de 3 toneladas distribuídas por 6 metros de comprimento e 1,73 metro de largura.
O modelo, que até 2012 era vendido aqui como Dogde Ram, quando o nome foi transformado em marca, já é vendido desde o começo do ano como linha 2018. Nenhuma mudança radical. Alteração externa mais perceptível está na grade dianteira, que foi redesenhada e que agora ostenta a logomarca RAM ao centro. Por dentro, destaque só mesmo para a incorporação de sistemas Android Auto e Apple CarPlay no central multimídia com tela de 8,4 polegadas.
Vendida em versão única, a Laramie cabine dupla, a 2500 tem seis air bags, controles de tração e de estabilidade, monitoramento eletrônico de rolagem da carroceria, controle de balanço do reboque, bancos revestidos em couro, aquecimento e ventilação dos bancos dianteiros, ar-condicionado de quatro zonas, dois porta-objetos de 102 litros cada nas laterais da caçamba, sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, estribos laterais e extensor de caçamba, dentre outros recursos.
O motor é o mesmo Cummins turbodiesel de seis cilindros e 6,7 litros, que desenvolve 330 cv de potência e 104 kgfm de torque. A transmissão é automática de seis marchas e a tração 4×4 pode ser selecionada por meio de seletor no painel. Com esse conjunto pode tracionar até 7.750 quilos. Já o preço é proporcional a essa força toda: a custa salgados R$ 275 mil.
Mas a RAM 2500, pelo porte, é cavalo que corre sozinho na raia: não tem concorrentes, mesmo que possa carregar a mesma 1 tonelada de outros modelos menores oferecidos por várias outras marcas. No entanto, essa igualdade de carga, analisa a FCA, detentora da RAM, é algo que pouco interessa para o perfil de seus compradores.
“A RAM 2500 é uma picape concebida mais para puxar do que para carregar”, interpreta , gerente de produto da RAM para a América Latina.
Machado lembra que nos Estados Unidos, para onde segue a maior parte das picapes produzidas pela FCA no México, esses veículos comerciais são muito utilizados, por exemplo, para puxar trailers ou rebocar barcos. Aqui o público-alvo é uma mescla de fazendeiros, pecuaristas, profissionais do agronegócio e, especialmente, criadores de cavalos, que volta e meia deslocam animais em carretas para exibições.
Não por outro motivo o patrocínio a cerca de uma centena de rodeios, de exposições e feiras de animais é o principal canal de divulgação — para não dizer o único, além do website — da marca e da picape no Brasil. Ou alguém que resida em uma grande cidade brasileira se recorda de ver um filme publicitário na televisão ou um outdoor destacando a RAM 2500?
Assim, é natural também que a quase totalidade das vendas aconteçam em regiões onde o agronegócio prepondere sobre outros segmentos da economia. Mais de 90% das 2500 são negociadas em cidades do interior de São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Paraná, ainda que a rede conhecida como CJDR, que vende simultaneamente Chrysler, Jeep, Dodge e RAM, conte com 48 revendas em todo o País.
Machado calcula que o mercado brasileiro deva consumir de 600 a 630 unidades da picape mexicana em 2018 —foram 103 emplacamentos no primeiro quadrimestre e 40 só em abril. Seria um salto e tanto sobre o volume negociado no ano passado, quando os emplacamentos somaram 332 unidades.
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E resultado anual poderia ser até maior, caso a FCA conseguisse desviar para cá parte da produção dedicada aos Estados Unidos, onde a procura pela picape segue grande. “Temos hoje, no Brasil, uma demanda maior do que aquilo que poderemos ofertar em 2018”, afirma o executivo.
Suprir essa falta com um outro produto da marca não está nos planos da FCA, ao menos por enquanto. Nos Estados Unidos a empresa produz e vende a RAM 1500, menor e mais barata. Mas diferente da 2500, que se beneficia do acordo comercial entre Brasil-México, sobre a 1500 incidiria o imposto de importação de 35%, o que reduziria muito sua competitividade aqui.
Mesmo que confirme vendas acima das 600 unidades este ano, a grandalhona picape estará ainda muito longe de seu melhor desempenho no mercado brasileiro, cravado em 2012. Naquele ano foram negociadas exatas 1.343 unidades. O segundo melhor resultado foi registrado no ano seguinte: 983 emplacamentos.
Voltar a esses níveis, porém, ainda é algo distante. Não só pelo fato de o mercado brasileiro, mesmo com a recente retomada, estar longe de seus melhores dias, mas porque a 2500 mudou de faixa de preço de forma acentuada por conta de várias melhorias no produto e, claro, pela relação cambial entre real e dólar bem mais desfavorável agora.
Há somente três anos, recorda Machado, a RAM 2500 era vendida por cerca de R$ 159 mil. Apenas para ficar dentro do próprio grupo FCA, hoje, com esse dinheiro, o consumidor conseguiria comprar uma Fiat Toro Volcano, cujo preço com opcionais supera os R$ 153 mil.
Foto: Divulgação/FCA
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