Entrevista

ZF engata várias marchas na América do Sul

Wilson Bricio, presidente do grupo na região, fala dos benefícios em curso após aquisição da TRW

Por Alzira Rodrigues| alzira@autoindustria.com.br

Anunciada em 2015, a aquisição da TRW pela ZF gerou um dos maiores grupos sistemistas do mundo. O processo de integração das duas empresas acabou sendo mais acelerado na América do Sul, onde o Grupo ZF faturou R$ 3 bilhões no ano passado, e em particular no Brasil, hoje referência para operações do grupo em outras regiões. A importância das operações brasileiras e sul-americanas nesta nova fase da ZF é um dos temas abordados por Wilson Brício nesta entrevista exclusiva ao AutoIndústria, na qual também fala dos investimentos em nacionalização e na Indústria 4.0. Desde o início do ano, Brício acumula o cargo de CEO da TRW Automotive com os dois outros que já ocupava: o de presidente do Grupo ZF na América do Sul e CEO da ZF do Brasil.

Muda alguma coisa na empresa com o senhor acumulando agora o cargo de CEO da TRW Automotive? Qual é o objetivo do grupo ao promover uma nova configuração em seu corpo diretivo?

A aquisição da TRW trouxe uma empresa com as mesmas proporções da ZF, com uma linha de produtos complementar, um portfólio amplo e novas unidades industriais. O resultado é uma soma de responsabilidades diretas que necessitam ser observadas e tratadas de uma maneira tão inovadora como é nossa atuação no negócio e por um pessoal altamente qualificado, como é o nosso time. Os principais beneficiados com as mudanças são os nossos clientes. Todo o mercado que atendemos na América do Sul já sente os benefícios da estrutura integrada de gestão e a sinergia otimizada entre as áreas de negócios. Na prática, esta harmonização de processos significa negociações mais eficazes e prestação de serviços diferenciada, que nos permitem explorar ao máximo o potencial da nova empresa.

A América do Sul foi pioneira no processo de integração da ZF com a TRW. Por que o processo foi iniciado por aqui? Qual a importância do que foi feito na região para a integração global?

Há 60 anos o Brasil foi o primeiro País a receber uma planta da ZF fora da Alemanha. E este processo foi mais acelerado porque esta é uma característica histórica da ZF no continente sul-americano. O profundo conhecimento das características do nosso mercado nos ajudou a acelerar a integração, e isto está servindo de exemplo para as outras regiões com presença da ZF.

O Centro de Distribuição inaugurado no ano passado faz parte do processo de integração das duas empresas?

Sim, faz parte e foi o primeiro Centro de Distribuição e warehouse inaugurado globalmente. E já nasceu integrado. O centro é administrado pela nossa divisão de pós-vendas, a ZF Aftermarket, na qual temos reunidas marcas tradicionais do mercado de reposição, como ZF, Sachs, Lemförder, Openmatics e agora a TRW. Com essas marcas, abrangemos um grande número de itens e componentes para as frotas leve e pesada, além de peças para os segmentos marítimo, agrícola e de construção.

 

“O profundo conhecimento do nosso mercado nos ajudou a acelerar a integração”

 

Quais são os efeitos positivos da nova fase iniciada com aquisição da TRW?

Antes da aquisição da TRW, em 2015, a atuação da ZF na região sul-americana era mais intensa no segmento de veículos comerciais. Com o novo portfólio, a ZF também passou a oferecer sistemas e componentes para segurança ativa e passiva, principalmente para veículos leves. No Brasil, a planta industrial de Limeira (SP) foi a primeira a nacionalizar a produção de direções elétricas, voltadas para a frota leve. Mas, é claro, é preciso destacar que na área de veículos pesados (caminhões, ônibus, comerciais leves, máquinas agrícolas e de construção), a ZF mantém suas posições de liderança em fornecimento de sistemas para chassis e drivelines, permanecendo uma referência para caminhões por fornecer transmissões automatizadas como a AS-Tronic, além de já termos disponível a moderna TraXon.

E no segmento de ônibus. Quais as novidades?

Continuamos muito atuantes também no segmento de ônibus, com várias soluções tecnológicas. Um dos destaques é a transmissão automática Ecolife, que aumenta a segurança do transporte de passageiros, diminuindo o consumo de combustível e proporcionando maior produtividade nas operações.

Já houve integração de todas as estruturas das duas empresas no Brasil e na região? Quais as vantagens que esse processo trouxe para a corporação?

Sim, já houve. São muitas vantagens operacionais que representam ainda mais benefícios e facilidades para os nossos clientes, como dito anteriormente. Reforço que, na prática, isso traz maior rapidez nas decisões, negociações mais eficazes, entregas mais rápidas e uma prestação de serviços diferenciada para todo o mercado sul-americano.

O Grupo ZF faturou R$ 3 bilhões na Amércia do Sul no ano passado. Qual a perspectiva para 2018?

Não falamos sobre e dados e projeções.

Qual o leque de produtos da companhia hoje na região? 

Uma série de itens de segurança passiva e ativa uniu-se ao nosso já conhecido portfólio de eixos, transmissões, embreagens e sistemas de direção e suspensão. Agora a ZF oferece também sistemas de freios, direção, freios ABS, airbags e componentes eletrônicos, entre outros. Com isso, a ZF passou a cobrir com abrangência uma grande faixa de necessidades do mercado, o que entrega para a marca a liderança em vários segmentos de atuação.

A empresa tem investido em nacionalização de componentes? Há planos para nacionalizações futuras?

Os processos de nacionalização obedecem às necessidades e tendências de cada mercado e a ZF está sempre atenta a todos os seus segmentos de atuação para antecipar e lançar novas soluções. Nosso último processo de nacionalização foi com a transmissão automatizada TraXon, enquanto a 9AS EcoTronic segue em curso. A TraXon já equipa vários caminhões pesados na Europa e em breve estará presente em alguns caminhões brasileiros. Já a 9AS EcoTronic foi desenvolvida para caminhões médios e semipesados. Também estamos atentos para oportunidades de localização no segmento de carros de passageiros, sempre em linha com as necessidades das montadoras e viabilidade do negócio.

A ZF vem investindo em processos industriais dentro do conceito Indústria 4.0?

Sim. Os investimentos em todas as nossas plantas começaram com a preparação da infraestrutura para o ambiente requerido pela Indústria 4.0. Nesta preparação, destaco o desenvolvimento de redes de comunicação devidamente preparadas e certificadas para garantir a segurança da informação que nela circula. Contamos com uma rede industrial que conecta as máquinas, equipamentos para medição e controle de qualidade, bancos de testes, sistemas eletrônicos de suporte à logística e a processos de montagem. Há anos temos investido também em manutenção preditiva, cuja análise da massa de dados coletados dos milhares de sensores de nossos equipamentos nos ajudam a minimizar interrupções e custos. Além da infraestrutura, a ZF investe na digitalização de produtos e dispositivos, bem como em simulação computacional de processos e fluxo de valor.

Quais linhas já operam nos conceitos Indústria 4.0?

A célula de pré-montagem de eixos das transmissões, por exemplo, é equipada com robôs de alta precisão, diversas máquinas integradas que otimizam a produção, dispositivos eletrônicos anti-falha e sistemas de rastreabilidade com QR code que registram todo o histórico produtivo das peças. Nos casos de processos com montagem mais complexas, há a tecnologia de auxílio ótico por câmeras que monitoram etapa por etapa do processo sem que o operador precise interceder. Neste sistema, os equipamentos e dispositivos de montagem são liberados eletronicamente apenas se a etapa anterior do processo for concluída adequadamente, garantindo a qualidade dos produtos.


Foto: Divulgação/ZF

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Alzira Rodrigues

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