AFord anunciou nesta terça-feira, 19, o encerramento das atividades da fábrica de São Bernardo do Campo (SP). A histórica unidade fabricava o hatch Fiesta e os caminhões da linha Cargo, que não serão mais produzidos no Brasil, onde a empresa chegou em 1919 e que abriga ainda duas outras fábricas: Camaçari (BA) e Taubaté (SP).
Em nota oficial, a montadora afirma: “Como parte da ampla reestruturação de seu negócio global, a Ford Motor Company anuncia que deixará de atuar no segmento de caminhões na América do Sul. Como consequência, a empresa encerrará as operações de manufatura na fábrica de São Bernardo do Campo (SP) ao
longo de 2019 e deixará de comercializar as linhas Cargo, F-4000, F-350 e Fiesta assim que terminarem os estoques.”
Lyle Watters, presidente da Ford América do Sul, diz que “a Ford está comprometida com a América do Sul por meio da construção de um negócio rentável e sustentável, fortalecendo a oferta de produtos, criando experiências positivas
para nossos consumidores e atuando com um modelo de negócios mais ágil, compacto e eficiente.”
“Sabemos que essa decisão terá um impacto significativo sobre os nossos funcionários de São Bernardo do Campo e, por isso, trabalharemos com todos os nossos parceiros nos próximos passos”, disse Watters, sem antecipar quais serão esses próximos passos.
O fechamento da unidade, estima o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, deve acarretar na demissão de 2,8 mil trabalhadores. A empresa iniciou suas atividades em São Bernardo do Campo em 1967, quando adquiriu a unidade da Willys Overland do Brasil localizada no bairro do Taboão. A primeira linha de montagem no País foi erguida no no centro de São Paulo, em abril de 1919.
Segundo a Ford, a drástcia medida foi tomada após vários meses de busca por alternativas e parcerias. Os investimentos para atender às necessidades do mercado e os crescentes custos com itens regulatórios teriam se tornado inviáveis a operação de caminhões na América do Sul.
A empresa não informa quantos trabalhadores devem ser dispensados com o encerramento da pioneira unidade. Em compensação, prevê “um impacto de aproximadamente US$ 460 milhões em despesas não recorrentes”. Acrescenta: “Cerca de US$ 100 milhões serão relacionados à depreciação acelerada e amortização de ativos fixos. Os valores remanescentes de aproximadamente US$ 360 milhões impactarão diretamente o caixa e estão, em sua
maioria, relacionados a compensações de funcionários, concessionários e fornecedores.’
A maior parte dessas despesas não recorrentes, prossegue a nota, será registrada em 2019 e é parte integrante dos US$ 11 bilhões em despesas, com efeito no caixa de US$ 7 bilhões, que a companhia prevê utilizar para a reestruturação dos seus negócios globais.
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Nos últimos meses cresceram os rumores de que a montadora poderia mesmo desativar sua unidade do ABC. A ideia seria concentrar a produção de automóveis na planta de Camaçari, a mais moderna da empresa no País e onde os custos seriam menores, e finalizar a linha de caminhões. Especulou-se até mesmo que a Ford poderia terceirizar a produção dos veículos comerciais.
Em 2018, a Ford vendeu 226,4 mil veículos no Brasil, equivalentes a 9,2% do mercado interno, a quarta maior partipação. Mas apenas 14,5 mil deles eram do modelo Fiesta fabricado no ABC. Fora 20 mil unidades da Ranger, picape importada da Argentina e número marginal de outros modelos trazidos da América do Norte, todo o restante negociado saiu da fábrica de Camaçari. Já a operação de caminhões negociou 9,3 mil veículos no ano passado, respondendo por 12% do mercado interno.
Procurada por AutoIndústria, a empresa disse que se manifestará oportunamente.
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