A Honda inaugurou oficialmente nesta quarta-feira (27) sua segunda fábrica de automóveis no Brasil. A planta de Itirapina (SP) estava pronta há mais de três anos, desde o fim de 2015, mas somente no fim do mês passado iniciou as operações.
Esse longo hiato foi uma opção da própria montadora, que preferiu manter o complexo industrial de R$ 1 bilhão fechado até que o mercado interno de veículos voltasse a crescer.
Em 2013, quando a Honda decidiu erguer a nova fábrica, localizada a cerca de 100 quilômetros de Sumaré, onde desde 1997 produz seus carros aqui, o mercado brasileiro era o quarto maior do mundo, com vendas da ordem de 3,8 milhões de unidades. Dois anos depois, já com Itirapina praticamente pronta, os emplacamentos tinham recuado para cerca de 2 milhões de veículos.
O tombo e a falta de perspectiva de retomada no curto prazo assustaram os mais que precavidos japoneses, que aproveitaram o embróglio do mercado em baixa para rever seu plano produtivo no País.
No começo do ano passado, a montadora oficializou que Itirapina seria a base única de produção de veículos no País a partir deste ano e que Sumaré concentraria a produção de motores, áreas de engenharia, desenvolvimento e ferramentaria, além de continuar como sede da Honda South America.
Itirapina tem capacidade produtiva nominal de 120 mil veículos por ano em dois turnos, rigorosamente a mesma de Sumaré. No ano passado, porém, a antiga unidade fabricou 138 mil veículos, mas lançando mão de horas extras e arté trabalho aos sábados.
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Issao Mizoguchi, presidente da Honda na América do Sul, recorda que a ideia original da montadora, no entanto, era simplesmente dobrar sua capacidade com a segunda planta. Depois, com o mercado longe ainda dos seus melhores dias, a empresa teria avaliado que era mais racional seguir com apenas a fábrica nova, naturalmente mais moderna, com processos e equipamentos mais eficientes, como robôs — 73 deles na linha de soldas — ou uma linha de prensas que demanda apenas três operações para confiormar partes da carroceria.
A decisão em favor de Itirapina se deu, assim, mais por uma expectativa de redução de custos no médio prazo do que pelo aumento da demanda, como inicialmente imaginado pela montadora, e que demandaria duas unidades em operação.
Ganhos de custos, no entanto, devem ser percebidos não antes de três anos, na avaliação de Mizoguchi, que lembra que a empresa contabiliza também os custos de manter os equipamentos e a estrutura de uma fábrica que ficou paralisada por três anos.
Ao lado de João Dória, governador de São Paulo que participou da solenidade de inauguração junto com autoridades locais, o presidente da Honda lamentou o fato de não poder enquadrar o projeto no Incentivauto, programa do governo paulista lançado este ano e que promete reduzir em 2,7% o ICMS para novos investimentos acima de R$ 1 bilhão e que gerem no mínimo quatrocentos empregos — o benefício pode chegar a 25% do imposto caso o aporte supere os R$ 10 bilhões.
“Gostaria de ter uma máquina do tempo”, brincou o executivo, que descartou qualquer possibilidade de novos aportes no curto prazo. “Antes precisamos recuperar o dinheiro que enterramos aqui.”
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No dia 27 de fevereiro foi produzido o primeiro Fit em Itirapina. O hatch foi escolhido para inaugurar a unidade e seguirá solitário na linha de montagem até o fim deste ano, quando o WR-V passa a ser fabricado lá. Na sequência, já em 2020, será a vez do HR-V e do City. Os quatro modelos são fabricados sobre a mesma plataforma.
O último a sair de Sumaré deve ser o Civic, único montado sobre uma plataforma maior, da qual derivam os importados CR-V e Accord. A Honda quer ter toda a produção em Itirapina até 2021.
Com 135 mil m² construídos, Itirapina já produz 90 unidades do Fit por dia. Trabalhará, por enquanto, em um único turno. São cerca de 450 funcionários, quadro que deve chegar a 1 mil pessoas já no fim deste ano. Até 2021, serão 2 mil funcionários, algo como 90% vindos de Sumaré, segundo a empresa.
Há espaço de sobra para abrigar muito mais pessoas e equipamentos na nova planta. Ainda assim, a empresa admite que não desmontará a suas linhas de montagem de Sumaré. Pelo menos por enquanto, assegura Otávio Mizikami, diretor executivo da Honda.
A mudança da linha de produção de veículos para Itirapina representa também alguns ganhos paralelos para outras unidades. Sumaré, por exemplo, ganhou uma nova área de ferramentaria no começo deste ano. Vários dos estampos que dão origem às partes das carrocerias do Fit e que já são utilizados na nova fábrica saíram da pioneira planta inaugurada em 1997. Em 2020, todos as ferramentas para os carros nacionais da marca serão feitos em Sumaré.
A Honda Energy também se beneficiará, conforme destacou Mizoguchi. A usina eólica da empresa em Xangri-lá (RS), que hoje conta com nove aerogeradores, ganhará mais um ao custo de R$ 30 milhões. A capacidade instalada subirá de 27,7 MW para 30 MW.
Com o reforço, o parque gaúcho, que atualmente supre a demanda de energia elétrica da fábrica de Sumaré, do Centro de Pesquisa & Desenvolvimento e dos escritórios de São Paulo, passará também a suprir a demanda energética da nova fábrica. “A produção de todos os carros produzidos pela Honda no Brasil utilizará energia limpa e renovável”, enfatizou o executivo.
Fotos: Divulgação/Honda
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