Ricardo Guggisberg, presidente-executivo da ABVE, Associação Brasileira dos Veículos Elétricos, é convicto: o automóvel do futuro, em todo o mundo, será movido a eletricidade. Mas o caminho ainda é longo, admite o dirigente. Em especial em países como o Brasil, que ainda não tem um plano bem definido para o desenvolvimento da mobilidade elétrica.
A frota de automóveis elétricos é insignificante no País e os híbridos, avalia Guggisberg, somente a partir deste segundo semestre devem começar a ganhar maior relevância nas vendas com a chegada do primeiro modelo nacional, o Corolla.
O novo produto da Toyota, de qualquer forma, é comemorado pelo presidente da ABVE como um importante degrau no processo de aculturamento do brasileiro no universo dos veículos eletrificados, já iniciado, sobretudo, com bicicletas e patinetes.
Parte dessa evolução poderá ser vista e discutida no VE Latino-Americano, o salão dos veículos elétricos, evento que acontece entre os dias 1 e 3 de outubro, no Transamerica Expo Center, em São Paulo. “2019 vai ser o ano da consolidação do mercado de elétricos e este será o salão da virada”, afirma Guggisberg.
Por que o mercado de carros elétricos ainda é tão incipiente no Brasil?
São vários os fatores que explicam a baixa demanda pelo carro elétrico no mercado brasileiro. Dentre eles, o fato de o Brasil ter um setor sucroalcooleiro muito forte. Também pesam a falta de interesse do governo em incentivar o uso do produto, o custo inimaginável do elétrico quando chegou aqui em 2010 e os oligopólios financeiros muito grandes para serem dissolvidos. O primeiro erro foi dar isenção de Imposto de Importação inicilamente apenas para os híbridos, deixando de lado os elétricos.
Na sua opinião, esse último fator explica o fato de os híbridos terem tido mais sucesso por aqui?
Certamente esta foi a primeira trava para os elétricos. Os híbridos tiveram demanda crescente e os elétricos ficaram estagnados. Só em 2017 foi dada isenção também para o produto 100% eletrificado. Até então, um carro que custava US$ 40 mil lá fora, tinha de ser vendido por R$ 260 mil a R$ 270 mil no Brasil. Agora houve também mudança no IPI, que esperávamos ficaria em 7%. Mas alegando que são carros de luxo, optou-se por uma faixa de 7% a 20%.
Quantos carros elétricos rodam pelo País?
A frota hoje é de 15 mil veículos eletrificados, incluindo aí os híbridos. Desse total, apenas 656 são 100% elétricos.
Quais as ações da ABVE para reverter esse quadro?
Estamos conversando com o Confaz para zerar o ICMS dos elétricos, proposta já apresentada pelo governo do Paraná. O órgão tem três departamentos internos que estudam o assunto e em um deles a proposta emperrou. O carro elétrico mais barato disponível hoje no País é o Renault Zoe, que custa R$ 149 mil. Sem ICMS ele vai para R$ 130 mil.
Como o senhor vê o futuro nesse segmento?
O compartilhamento de veículos, que já está ganhando força no caso dos elétricos levíssimos – patinetes, bicicletas e scooters, por exemplo -, deve impulsionar o uso do carro elétrico. É um caminho mais acessível.
E a questão do abastecimento? Isso ainda é um empecilho, não é? O elétrico não deverá ser apenas um veículo de uso urbano?
Na minha opinião não. Já é possível, por exemplo, ir de São Paulo a Ribeirão Preto e voltar sem problema. Ainda há um receio quanto ao abastecimento e, sem dúvida, é necessário ampliar a rede de recarga para dar mais segurança aos usuários. Estamos trabalhando com propostas junto aos governos estaduais para caminhar nesse sentido.
Quantos eletropostos há no Brasil?
São cerca de 200 pontos, incluindo os instalados em shoppings e outros estabelecimentos similares.
O elétrico ainda tem o empecilho do preço. A tendência é ele se tornar mais em conta?
Para o preço baratear é preciso ter volume e infraestrutura. O carro elétrico tem 700 peças a menos do que um modelo convencional, seu custo de manutenção é inferior ao de veículo convencional. Se os investimentos feitos em eficiência energética dos motores a combustão, que no caso do Inovar-Auto foi da ordem de R$ 12 bilhões , tivessem sido direcionados ao elétrico, o Brasil já teria evoluído nesta área.
Quantas são as montadoras filiadas à ABVE?
Temos quatro montadoras – Toyota, Renault, Nissan e Porsche – e estamos negociando com outras, dentre as quais Volvo Cars, Volkswagen e General Motors.
A Toyota está lançando o Corolla híbrido. Seria esse o caminho de transição para o elétrico no Brasil?
O Corolla híbrido certamente vai ser um sucesso. A população confia no álcool e o produto tem tudo para dar certo. E, sim, mundialmente o híbrido tem representado uma transição para a cultura do elétrico.
O carro elétrico está completando dez anos no mundo e agora começa a surgir a questão da bateria, o custo para trocá-la. Esse não é mais um empecilho?
Ainda há uma necessidade de baixar o custo dos acumuladores. Mas isso não será empecilho. A Umicore, por exemplo, está louca para pegar bateria para reciclar. Há caminhos para resolver essa questão.
Vamos falar um pouco da VE Latino-Americano , o salão dos veículos elétricos, que acontece em outubro. A edição deste ano será maior?
2019 vai ser o ano da consolidação do mercado de elétricos e este será o salão da virada. Teremos participação de empresas que nunca estiveram no evento, como a ArcelorMittal. Serão mais de 50 marcas expositoras de componentes, baterias e de veículos leves, levíssimos e pesados, além serviços e infraestrutura. A ideia é mostrar novas tecnologias e soluções, como reciclagem de bateria, estações de recarga e baterias de lítio, entre outros.
Quais montadoras vão participar?
Já estão confirmadas a Toyota, Lexus, Renault, Nissan e BYD. Estamos prevendo um público próximo de 10 mil pessoas, o dobro da edição do ano passado A mostra terá 8 mil m², enquanto em 2018 foram 6 mil m² .
Quais serão as atrações desta 15ª edição?
Haverá test drives com modelos elétricos e híbridos, test ride com bicicletas, test flight com quatro modelos de drone e uma pista com kart elétrico. Além da exposição e dos test drives, teremos o C-Move, Congresso da Mobilidade e Veículos Elétricos, que tem por objetivo aprofundar debates relevantes que possibilitem o desenvolvimento do uso e da promoção de novos negócios para a mobilidade elétrica no Brasil.
Foto: Tesoura Fotografia