Sedã lançado em 1969 tinha motor 5.2 e se tornou referência de luxo e desempenho
É flagrante que os consumidores de hoje e especialmente aqueles que estarão no mercado em poucos anos terão de ser convencidos a comprar um automóvel, já que, queiram ou não os fabricantes, é crescente a interpretação das novas gerações de que o carro é apenas mais uma das alternativas para a mobilidade, em especial nos grandes centros.
Muito diferente da visão dos pais e até avós desse contingente que agora quer se deslocar sem desembolsar tanto, no menor tempo e, tão importante quanto, consumindo menos recursos naturais e poluindo muito menos, para não dizer quase nada.
Os jovens dos anos 60 e início dos 70, aqueles que compravam carros antes portanto da primeira crise mundial do petróleo, pouco se importavam com consumo ou poluição. Ao contrário, carroscom motores grandalhões — e também muito beberrões—, eram a ambição da maioria e, naturalmente, por conta disso recebiam toda a atenção dos fabricantes.
O primeiro modelo Chrysler fabricado no Brasil é uma boa síntese daqueles anos e do padrão de consumo de então: o Dodge Dart, sedã que completou este mês exatos de 50 anos de seu lançamento e ainda habita, pelo menos na opinião dos mais veteranos, o Olimpo dos automóveis produzidos aqui até hoje.
O Dart representava luxo, sofisticação, força e, claro, desempenho. Para amealhar todos esses atributos dispunha de muito espaço interno, acabamento refinado e de um motor de nada menos do que 5,2 litros, 198 cavalos e de outro ícone dos tempos do petróleo e derivados baratos, a configuração V8. É, até hoje, o maior motor de um carro nacional.
Apesar desses números, o Dodjão, como passou a ser conhecido o grandalhão sedã de quatro portas e apenas três marchas na transmissão, acelerava da imobilidade aos 100 km/h em 12 segundos, a melhor marca do segmento naquela época, que reunia ainda os as novidades Chevrolet Opala e Ford Galaxie, mas semelhante ao de qualquer modelo 1.0 atual.
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O Dodge Dart 1970 exibia requintes até então inéditos ou raros em carros brasileiros, como o quadro de instrumentos que englobava hodômetros total e parcial, relógio elétrico e indicadores de pressão do óleo, carga da bateria, nível do combustível e temperatura do motor. Também eram destaque a luz em volta do miolo da ignição e as de cortesia no porta-luvas, porta-malas e compartimento do motor.
Vale reproduzir um primeiro trecho do texto do catálogo de lançamento: “Velocidade. Potência. Desempenho. Dodge Dart 1970. Acelere. A potência do motor vai se manifestar logo. Facilidade em arranque. […] O carro de luxo brasileiro mais moderno que existe. Dodge Dart 1970.”
Foram fabricadas exatas 93.008 unidades das várias versões do Dodge Dart até 1981 — os esportivos Charger L/S e R/T são os mais cultuados pelos 215 cavalos de potência e estilo da carroceria coupé — , quando a Volkswagen, que comprara a Chrysler do Brasil em 1979 de olho sobretudo nos caminhões, resolveu encerrar a produção de carros de passeio da marca americana.
A história da Chrysler só foi retomada no País uma década depois, com a abertura das importações. A produção, porém, limitou-se depois por pouquíssimo tempo, apenas 4 anos, e coincidentemente com uma picape Dodge, a Dakota, no Paraná.
A marca Chysler é mais lembrada agora no Brasil por pouco modelos importados e por integrar a FCA, Fiat Chrysler Automobiles, fabricante de carros e comerciais leves Fiat e os SUVs da Jeep em Minas Gerais e Pernambuco.
Mas o Dodjão, mesmo depois de 38 anos de seu fim, permanece com sua reputação inabalável, ao menos para os saudosistas e admiradores de carburadores e de característico ronco dos beberrões V8. Que os mais jovens os perdoem.
Fotos: Divulgação/Ivan Carneiro
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