A indústria de motocicletas, obviamente, não tem nada a comemorar em 2020. Ao contrário, com os emplacamentos somando 304 mil unidades nos primeiros cinco meses, 32% a menos do que em igual período de 2019, o melhor a fazer é torcer para que o mercado retome o mais rapidamente possível no pós-pandemia e atenue o tom vermelho das planilhas.
Mas há quem defenda que o medo do contágio pode representar uma, digamos, boa notícia para o setor no curto prazo. A preocupação sanitária e o distanciamento social tendem a acelerar, em particular nos grandes centros, a opção pelo transporte individual em detrimento do coletivo. Essa movimento poderia impulsionar a venda de automóveis e, sobretudo, de motocicletas.
De certo modo, o mercado brasileiro já vinha caminhando por essa trilha, mas até então motivado pela intensificação dos problemas de mobilidade urbana. Prova disso é a crescente demanda pelos scooters e cubs na última década, veículos eminentemente urbanos.
Se a Fenabrave registrava que o segmento cubs-scooter representava menos de um quinto das vendas em 2010, hoje esses produtos têm praticamente o dobro de participação: no acumulado de janeiro a maio, atingiram quase 106 mil unidades, 35% do total de motos negociadas no País.
Definidos pela Abraciclo como motociclos de câmbio automático ou semiautomático concebidos para privilegiar o conforto, os scooters têm roubado consumidores até mesmo da categoria city, que, como o próprio nome sugere, seria a opção natural para deslocamentos dentro de cidades.
LEIA MAIS
→ Maio: outro mês para o mercado de motos esquecer.
→Em maio, 80% dos fabricantes de motos voltaram a produzir
Ainda que as motocicletas city sigam liderando as vendas e representem 39,5% de todo o mercado, a diferença de apenas 4,5 pontos porcentuais para os modelos cubs-scooters é significativamente menor do que há bem pouco tempo. Há cinco anos, por exemplo, a categoria tinha 43% das vendas, enquantos os cubs-scooters foram escolhidos por 30% dos consumidores.
Um ano antes, em 2014, as participações eram, respectivamente, 48% e 28% e em 2010 havia um abismo ainda mais gigantesco: foram negociadas naquele ano mais de 1,1 milhão de motos city contra 327 mil cubs-scooters. Em porcentagem: 64% contra 19%.
Em 2020, porém, os números absolutos de qualquer uma das categorias serão muito inferiores aos registrados no ano passado, quando o mercado total beirou 1,1 milhão de unidades no atacado, 13% a mais do que em 2018, segundo a Abraciclo.
A entidade, que reúne os principais fabricantes nacionais de motos, estimava novo crescimento da ordem de 6% este ano. O cálculo, porém, foi revelado em janeiro, quando a pandemia, para muitos países ocidentais, era um problema restrito à China. Uma nova projeção segue fechada nas gavetas das fabricantes.
Foto: Divulgação
- Consórcios caminham para recorde de cotas vendidas - 16 de dezembro de 2024
- Após três décadas, Corolla perde a hegemonia de Toyota mais vendido no Brasil - 16 de dezembro de 2024
- Segundo semestre “salva” as exportações de veículos - 12 de dezembro de 2024