Impacto cambial é permanente, enquanto efeitos da pandemia serão superados com retomada da produção e crescimento em 2021
Não tem dúvida: 2020 não sairá da memória de gerações como o palco das mais graves crises sanitária e econômica desde os primórdios do século passado. O setor automotivo mundial, naturalmente, também ficará marcado pela interrupção da produção durante semanas e abrupta queda das vendas.
Mas, após cinco meses e mesmo com a continuidade dos elevados índices de contaminação e mortes, a pandemia não é o único fator — e talvez nem o maior — que vem preocupando os responsáveis por compras de autopeças e componentes das operações brasileiras das montadoras.
Ao lado e, na opinião de alguns, até acima na lista de atuais inimigos da cadeia automotiva está a desvalorização do real frente ao dólar, como admitiram executivos de compras de Mercedes-Benz, FCA, General Motors e Toyota em seminário online realizado nesta quinta-feira, 26, por AutomotiveBusiness ( www.automotivebusiness.com.br ).
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Os impactos da pandemia, segundo eles, começaram a ser combatidos, em conjunto, por montadoras e fornecedores já nas primeiras semanas de vendas e produção paralisadas. Celso Simomura, vice-presidente de compras da Toyota, exemplificou que sua empresa até antecipou pagamentos para auxiliar no fluxo de caixa de alguns produtores de autopeças.
As projeções de então sobre o comportamento do mercado em 2020 indicavam um quadro ainda mais tenebroso do que o atual recuo das vendas de veículos da ordem de 35% e até uma quebradeira de fonrecedores foi aventada pelo setor.
“A pandemia, na verdade, potencializou os problemas das empresas que já tinham problemas. Nenhum dos nossos fornecedores fechou as portas ou saiu do País”, assegurou Juliano Almeida, diretor de compras da FCA América Latina.
A base de fornecedores, afirmam as montadoras tem dado conta das entregas na retomada e a maior parte da queda registrada nas compras este ano — proporcional à das vendas de veículos — será recuperada já em 2021.
Elas já não descartam que as despesas poderão estar novamente em níveis muito próximos aos registrados em 2019. “Ficarão faltando uns 10% para retornarmos ao ano passado”, estima Rodrigo Godinho, diretor de compras da General Motors.
Por outro lado, os executivos não observam ainda um retrocesso na brutal valorização do câmbio acumulada ao longo principalmente do primeiro semestre de 2020. Um diagnóstico nada bom para o setor, depende, em grande medida, de componentes importados e, também, de matérias-primas cotadas na moeda americana.
Silvia Simon, gerente sênior da divisão de caminhões e ônibus da Mercedes-Benz, defende que o dólar alto tem sido , de fato, pior para a cadeia automotiva do que a própria pandemia. “O dólar alto é um custo direto na veia, com permanência. Não há sinais de arrefecimento. A pandemia tem um efeito pontual e que já começa a ser recuperado”, disse.
Diante dessa percepção de que o dólar seguirá em elevação, surge uma boa notícia para a base de fornecimento: as montadoras querem, e precisam para se defenderem da exposição cambial, aumentar e acelerar seus programas de nacionalização de partes e componentes.
A pandemia, confirmaram os executivos, também mexeu com a velocidade das discussões que já vinham sendo travadas com os fornecedores em torno do tema, até por conta de programas como o Rota 2030 ou da nova fase do Proconve.
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Por exemplo, os projetos que já estavam engavetados ou que resultaram em compras no exterior estão sendo reestudados pela FCA. Apesar do já alto nível de componentes locais nas linhas Fiat e Jeep, como frisa Juliano Almeida.
O diretor da FCA admite que a empresa resolveu até revisar projetos que já resultaram em importação de componentes. “Talvez agora faça sentido nacionalizá-los”, diz Almeida.
Simomura lembra, porém, do caixa limitado das empresas e da dificuldade delas de obterem novos recursos em um cenário de vendas globais e horizontes econômicos pouco definidos.
“A nacionalização não depende apenas das montadoras, mas de um trabalho colaborativo com os fornecedores. E o ambiente na América do Sul tem gerado receios para a definição de investimentos”, completa Godinho.
Foto: Divulgação
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