Nosso primeiro artigo apontou os efeitos da pandemia nas vendas de automóveis durante e depois da crise. Agora, discutiremos como serão os novos formatos de gestão pós-pandemia – redução das viagens de negócios, aumento do uso de ferramentas digitais pelas empresas e enxugamento do quadro de funcionários.

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Apenas uma gripe

Como a gestão dos negócios no setor automotivo se ajustará à nova realidade? É indiscutível a menor presença física no ambiente das fábricas, a aceleração das videoconferências e a utilização de meios digitais buscando se igualar às tendências anunciadas, por exemplo, pelo mercado financeiro e de serviços.

A pandemia do coronavírus provocou mudanças inimagináveis na gestão empresarial no planeta, mas a aplicação das ferramentas de comunicação à distância na cadeia automotiva tem trazido à tona a certeza de que grandes ajustes ainda deverão ser feitos nos próximos meses a fim de racionalizar o trabalho e melhor organizar o volume de atividades.

O modus operandi pré-pandemia já apresentava uma utilização de recursos no seu limite, principalmente nas montadoras. Não que o volume de trabalho fosse menos intenso nas empresas da cadeia de suprimentos, mas o atendimento a compromissos em diferentes regiões nas OEM’s sempre foi de maior intensidade.

A globalização de projetos, ocorrida nos últimos 15 anos, intensificou o volume de trabalho, enquanto a racionalização de recursos, somada aos movimentos disruptivos do trinômio conectividade, eletrificação e mobilidade as a service, cobrou das fabricantes de veículos o atendimento de demandas diversificadas, onde o capital não era disponível.

O que vimos foi a concentração de recursos em zonas de maior impacto como forma de reduzir os custos desde o desenvolvimento até o sourcing. O Brasil sofreu consistentemente com esta decisão, a ponto de áreas inteiras de desenvolvimento serem desativadas e o conhecimento técnico acumulado por anos ter sido descartado.

Esse movimento aumentou a utilização de meios virtuais para reuniões, mas não eliminou o número de viagens locais e internacionais, que se mantiveram constantes e como regra nas multinacionais instaladas no país.

E o mundo não parou por causa disso. A vida seguia normal até 23 de março, quando a primeira onda de quarentena foi decretada no País. A partir daí, a vida mudou de forma radical.
As inúmeras reuniões diárias – e presenciais – dos profissionais do setor, quebradas pela imposição de isolamento, criaram um hiato momentâneo sobre qual caminho seguir. Jamais se imaginou que entraríamos em uma rotina como a que estamos vivendo hoje.

Anteriormente à pandemia, encontrava-se grande dificuldade para o agendamento de uma reunião com os sponsors necessários à tomada de decisão sobre um novo projeto ou serviço. Mas, com a agenda alocada, uma viagem para reunião presencial garantia um processo mais rápido.

Hoje, a limitação de agenda se dá pela grande quantidade de reuniões interligadas hora a hora que se iniciam antes das 8 da manhã e facilmente se estendem por mais de 12 horas. Nas conversas do dia a dia com profissionais de montadoras, de autopeças e do mercado financeiro, a posição é a mesma: não aguentam mais tantas reuniões, apresentações, lives etc.

Entendemos que as organizações aprenderão com o processo e, no médio prazo, ajustarão recursos à demanda. Mas, com certeza, algumas práticas vieram para ficar:
1. Uso de videoconferência substituindo reuniões presenciais mesmo pós-pandemia;
2. Redução radical do número de viagens, principalmente internacionais;
3. Ampliação das habilidades de apresentação e de pensamento estruturado;
4. Menor tolerância para compromissos ineficientes e improdutivos;
5. Maior exigência e comprometimento das equipes – mais profissionalismo.

Redução das equipes

A compressão de margens pelo aumento desenfreado de custos (dólar, logística, ociosidade) forçará uma redução drástica de despesas fixas. Diminuem as campanhas publicitárias, diminuem as estruturas formais, substituídas por menos pessoas de maior competência – o desemprego em massa ajudará na seleção natural.

Para as pessoas que ficam, aumentará a carga de trabalho, a ser dividida com equipes volantes ou consultores externos, que executam o trabalho da sua especialidade e partem para novo programa. As equipes internas deverão mapear as necessidades e cuidar do alcance dos objetivos e não necessariamente executar sozinhas todas as etapas mandatórias dos projetos.

Ajustes de quadro

Espera-se que os novos formatos de reuniões e gestão evoluam com ganho de agilidade, resultado do aumento da conexão e/ou alinhamento entre responsáveis e diminuição dos steps no processo decisório. Como consequência, deveremos ter redução no quadro de pessoas pelo aumento da eficiência e, fatalmente, as limitações de caixa causadas pela pandemia serão uma boa justificativa para reorganizações postergadas nos tempos normais do passado.


Texto: Murilo Briganti, Bright Consulting

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