Modelos elétricos de alto valor ganham importância no mercado premium
O insignificante mercado brasileiro de veículos elétricos e híbridos está se tornando bem menos incipiente no andar de cima, ainda com volume baixos, mas proporcionalmente significativos no segmento de automóveis premium. Essa realidade paralela em um nicho de alta renda e rentabilidade tem motivado as marcas de luxo a trazer ao Brasil os seus mais requintados e tecnológicos modelos a bateria, que passam dos R$ 500 mil e formam filas de fanáticos para compra-los.
Após os Audi e-tron e os Mercedes-Benz EQ, o mais novo exemplar dessa categoria de naves elétricas sobre rodas é o BMW iX, um SUV de quase 5 metros de comprimento que começa a rodar no país a partir de abril próximo em duas versões, a xDrive40 de R$ 655 mil (326 cv e autonomia de até 425 km) e a xDrive50 Sport de R$ 800 mil (523 cv para rodar até 630 km antes de precisar recarregar as baterias).
Trinta deles foram colocados em pré-venda e esgotaram em 12 horas. Sem ver o veículo fisicamente, os clientes pagaram sinal de R$ 50 mil só para serem os primeiros a circular nas ruas brasileiras com o iX.
Diante do prematuro sucesso, a BMW aumentou de 300 para 400 unidades as encomendas do modelo à matriz em Munique, na Alemanha – e já negocia trazer mais 100, ainda sem resposta se o pedido será atendido. A fabricante estima que o iX vai representar nada menos do que metade das 800 unidades de quatro BEVs (Battery Electric Vehicle) que pretende vender este ano no Brasil. Será um salto de 349% na comparação com os 178 i3 emplacados em 2021.
Elétricos ganham importância
Além do compacto i3, primeiro e até agora único BMW elétrico da vendido no país desde 2014 – a produção será encerrada na Alemanha em julho próximo mas as vendas continuam até o fim dos estoques –, este ano vão se juntar à gama de BEVs da marca no Brasil três novas opções: depois do iX estão previstos os lançamentos do iX3 (SUV médio elétrico derivado do modelo a combustão) e o cupê de quatro portas i4.
A BMW confia e aposta no avanço da eletrificação no país na camada de alta renda. Em 2021 a marca vendeu 14,5 mil carros aqui, cresceu 17% sobre 2020 e se garantiu no topo do ranking de automóveis premium no Brasil pelo terceiro ano consecutivo. Os carros eletrificados – incluindo o BEV i3 e versões híbridas plug-in de cinco modelos – responderam por 17% do resultado, com cerca de 2,5 mil emplacamentos e o sedã plug-in 330e à frente com 579 unidades vendidas.
“Este ano, com novos modelos, os eletrificados devem representar 25% das vendas”, estima o diretor comercial Roberto Carvalho. “É um porcentual maior até do que alguns países da Europa”, destaca. A expectativa de mais longo prazo é que, mesmo com poucos incentivos no Brasil, os elétricos e híbridos plug-in vão responder por metade das compras no mercado de carros premium.
Até porque haverá poucas opções de modelos não-elétricos para importar, levando-se em consideração que as matrizes europeias estão convertendo toda a produção para veículos elétricos até o fim desta década.
No entanto, até o momento não há nenhuma intenção do grupo em montar modelos híbridos ou elétricos na fábrica brasileira de Araquari (SC). Isso porque os volumes de vendas de carros eletrificados no país seguem irrelevantes para justificar o investimento na produção local, diferente do que acontece na Europa, onde a BMW aproveita o boom dos BEVs e plug-ins impulsionados por incentivos e legislação.
Em 2021, o grupo vendeu 1 milhão de híbridos plug-in e elétricos no mundo todo, incluindo as marcas BMW e Mini. A fabricante quer que 90% de sua linha de produtos tenham versões eletrificadas, programou lançar 13 BEVs até 2023, espera vender 2 milhões de elétricos até 2025 e em 2030 estima que 50% das suas vendas sejam de modelos a bateria.
Nível mais alto
Ao contrário do que fez em 2013 quando lançou o rústico i3, após investimentos estimados em € 2 bilhões para desenvolver com muitas inovações construtivas o seu primeiro modelo projetado para ser 100% elétrico, a BMW reorientou sua estratégia para lançar BEVs no topo de sua gama. Não por acaso o i3 está saindo de cena, mas as inovações disruptivas continuam, agora com carros requintados, design expressivo e os mais sofisticados sistemas tecnológicos disponíveis no mercado.
“Mesmo dentro das novas tendências tecnológicas que movem a indústria, a BMW seguirá sendo uma marca premium”, define Aksel Krieger, presidente do BMW Group Brasil. “É essa estratégia que nos garante bons resultados e caixa para investir nas mais avançadas tecnologias de propulsão e digitalização”, afirma.
O iX é um exemplar dessa estratégia, que faz dele um dos mais avançados carros do planeta. Custa caro, mas traz para o mundo real (de poucos) o estado da arte da tecnologia veicular, combinando avanços em todas as suas dimensões, incluindo até o sistema de som com 30 alto-falantes (a maioria embutida nos bancos) que oferece uma experiência sensorial diferenciada a bordo.
Para além da propulsão elétrica potente e eficiente, o design do iX é tão bonito quanto funcional, com linhas desenhadas para reduzir ao máximo a resistência ao ar e assim aumentar sua eficiência energética – o carro tem coeficiente de penetração aerodinâmica (Cx) de 0,26, o menor índice conhecido no mercado.
A construção do iX combina o uso de materiais leves, ultraresistentes e sustentáveis, como fibra de carbono, plásticos especiais (60 kg de reciclados), alumínio (50% reciclado) e aço. Redes de nylon recolhidas do mar servem de matéria-prima dos carpetes. Os bancos são tingidos com extrato de oliveiras.
Toda a cadeia de produção das baterias, incluindo a extração de minérios como lítio e cobalto, é acompanhada e certificada para evitar qualquer correlação com trabalho análogo à escravidão ou práticas nocivas ao meio ambiente.
Na imitação de grade dianteira com o tradicional duplo rim que identifica todos os BMW, foi usada resina com nanotecnologia de autorregeneração, que elimina riscos com a simples aplicação de ar quente de um secador de cabelos.
Carro inteligente
Com alguma razão, a BMW chama o iX de “primeiro carro inteligente”. De fato, ele é dotado de inteligência artificial que aprende e interage com seu motorista/proprietário. Por exemplo, após passar por alguma situação várias vezes, na fila de um pedágio ou em um drive-thru, o veículo pode passar a abrir automaticamente o vidro.
Graças a essa interação homem-máquina inteligente, foi possível reduzir pela metade o número de botões para acionamento dos diversos controles do carro, que foram substituídos por gestos ou toques na tela tátil, além de comandos de voz – sim, o iX está sempre ouvindo o que o motorista quer, desde pedidos de música, localizações de destinos e rotas no navegador, regulagem de bancos e até de temperatura no interior da cabine (basta dizer, “BMW, estou com calor”).
Os sistemas do iX são alimentados por muitos olhos e ouvidos digitais conectados a centrais de processamento. O carro tem cinco câmeras externas, uma interna, cinco radares e 12 sensores ultrassônicos, que sustentam capacidades de direção autônoma parcial, dispositivos de segurança ativa e navegação com imagens de realidade aumentada no quadro de instrumentos.
O iX é conectado à internet e já está preparado para tecnologia 5G de alta velocidade. Com isso, está sempre disponível na tela do computador ou no aplicativo do smartphone, que inclui até uma chave digital por aproximação e alertas de manutenção, como troca de pneus.
O novo carro elétrico da BMW já entende perfeitamente o português falado por brasileiros e todos os seus equipamentos foram preparados para funcionar sob as condições do país. Isso porque a equipe de engenharia do grupo no Brasil embarcou todos os sistemas do iX em um SUV X5 (ironicamente a diesel) para correções erros e testes de rodagem em 2020 e 2021, que somaram 40 mil quilômetros. Ao todo, foram reportados e corrigidos 966 problemas, a maior parte de navegação e comandos de voz. “São coisas que não se descobrem na Alemanha”, explica o diretor de engenharia Herbert Nagele.
OBSERVAÇÕES
Criado em janeiro de 2021 com a fusão de PSA e FCA, o Grupo Stellantis apresentou resultados animadores em seu primeiro balanço financeiro, divulgado na semana passada, que justificam plenamente os benefícios da união entre as duas empresas.
Na comparação com os balanços somados das duas companhias antes da fusão, o faturamento de € 152 bilhões representou crescimento de 14%, com lucro operacional duas vezes maior, de € 18 bilhões, o que garantiu uma robusta margem de 11,8%, enquanto cresceu três vezes o lucro líquido apurado de € 13,4 bilhões (após despesas financeiras e impostos).
Foram vendidos 6,14 milhões de veículos das 14 marcas do grupo, ainda abaixo da capacidade global de 8 milhões/ano. Logo no primeiro ano de operação, as sinergias entregaram economias somadas de € 3,3 bilhões.
Os resultados da operação na América do Sul, com sede no Brasil, também ficaram acima das expectativas, com 830 mil carros vendidos na região e faturamento de € 10,7 bilhões, lucro operacional de € 882 milhões e margem de 8,2%. “Nunca antes conseguimos extrair tanto lucro da região”, atestou o CEO Carlos Tavares.
Uma semana após divulgar os resultados financeiros de seu primeiro ano de operação, o Grupo Stellantis apresentou o plano estratégico de longo prazo “Dare Forward 2030” (algo como “Ousar Além de 2030”), com forte foco na eletrificação. A corporação promete reduzir em 50% as suas emissões de CO2 até o fim da década e pretende neutralizar 100% de sua pegada de carbono “do poço à roda” até 2038.
Estão na lista 75 lançamentos de BEVs (Battery Electric Vehicles) até 2030, quando a estimativa é vender 5 milhões deles por ano. Até lá a Stellantis quer que 100% das vendas na Europa e 50% nos Estados Unidos sejam de modelos puramente elétricos. A nova safra inclui o primeiro elétrico Jeep, um SUV compacto (menor que o Renegade) a ser lançado no primeiro semestre de 2023, seguido em 2024 pela primeira versão elétrica da picape Ram 1500.
Foram poucos os detalhes, mas a América do Sul também participa do plano com 28 lançamentos de oito das 14 marcas do grupo, e 20% do mix de produtos serão de modelos eletrificados.
Se tudo der certo, até o fim desta década o Grupo Stellantis planeja dobrar a atual receita líquida anual para € 300 bilhões e manter margem operacional de lucro na casa de 10% a 12%, ou € 30 bilhões a € 36 bilhões por ano.
A Mercedes-Benz do Brasil apurou em 2021 expressivo crescimento de 77% nas exportações de caminhões, com 8 mil unidades embarcadas de São Bernardo do Campo para países da América Latina, Oriente Médio e Norte da África. Esses mercados também compraram pouco mais de 3 mil chassis de ônibus, o que representou expansão de 13% sobre o volume de 2020. Para 2022 a expectativa é alcançar recorde de vendas para mercados externos.
No ano passado a Mercedes-Benz atingiu outro marco histórico de exportações da operação brasileira. Desde os anos 1970, a fabricante contabiliza o embarque ao exterior de 150 mil caminhões e ônibus desmontados, em sistema CKD, que seguem para montagem em fábricas do próprio grupo Daimler Truck ou de importadores em países como Argentina, México, Egito, Quênia, Argélia, África do Sul, Indonésia, Taiwan e Vietnam.
Em 2021 a Scania superou com folgas seu mau resultado de 2020, com 15,7 mil caminhões vendidos de janeiro a dezembro, em crescimento de 80% sobre o ano anterior, quase o dobro da média do mercado, e com expressivo ganho de quatro pontos porcentuais, de 19,6% para 23,6%, de participação no segmento de pesados, único onde a fabricante atua.
Para 2022, embora já existam pedidos em carteira até o fim do ano, a expectativa é de crescimento menor, na casa dos 8%, em mercado limitado pelas previsões de queda da atividade econômica, mas que continuará a ser sustentado pela força do agronegócio, com previsão de colher 268 milhões de toneladas de grãos. Outro fator limitante é a falta de componentes, especialmente semicondutores, que segue afetando a produção e atrasando as entregas.
Desde que começou em 2020 a produzir e vender no Brasil seus caminhões equipados com motor ciclo otto a gás de baixa emissão, a Scania contabiliza a venda de 600 cavalos mecânicos que rodam com metano ou biometano, sendo 300 já entregues e outros 300 encomendados em produção.
Além dos caminhões com tanques de gás comprimido (GNC), com autonomia limitada a cerca de 400 km, a Scania começou este ano a vender os primeiros modelos abastecidos com gás liquefeito (GNL) sob alta pressão, que aumenta o alcance para até 1,2 mil km. As primeiras cinco unidades, que serão entregues ao longo de 2022, foram encomendadas pela Morada Logística, para rotas no interior de São Paulo.
* Pedro Kutney é jornalista especializado em economia, finanças e indústria automotiva. É autor da coluna Observatório Automotivo, especializada na cobertura do setor automotivo. Ao longo de mais de 35 anos de profissão, foi editor do portal Automotive Business, editor da revista Automotive News Brasil e da Agência AutoData. Foi editor assistente de finanças no jornal Valor Econômico, repórter e redator das revistas Automóvel & Requinte, Quatro Rodas e Náutica.
Foto: Divulgação
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