Fundada em 1956 para representar o setor automotivo que começava a se consolidar no Brasil, a Anfavea sempre  manteve algumas tradições, como o rodízio das marcas veteranas no comando da entidade, as reuniões da diretoria todas as quintas-feiras e o símbolo baseado em um calhambeque, que deveria ter sido substituído na atual gestão mas segue firme como sua principal identificação.

A mudança na direção da entidade neste início de semana é marcada por alguns diferenciais relevantes no contexto histórico da entidade. Pela primeira vez uma mulher assume a 1ª vice-presidência e o novo presidente, ao contrário do tradicional, chega sem nunca ter tido contato próximo com a imprensa automotiva.

Ambos com formação em Direito, Marina Willisch é vice-presidente de relações governamentais e comunicação da General Motors América do Sul e Márcio de Lima Leite é vice-pesidente de assuntos jurídicos, tributários e de relações institucionais da Stellantis na América do Sul.

Em solenidade realizada em São Paulo na manhã da segunda-feira, 2, a principal curiosidade dos jornalistas era conhecer o novo presidente da entidade, que substituiu Luiz Carlos Moraes, diretor de comunicação da Mercedes-Benz que, justamente pela sua função, já tinha contato próximo com a imprensa antes de assumir a Anfavea.

Mineiro de Belo Horizonte, Leite, 51 anos, mostrou-se bastante à vontade em sua primeira coletiva, deixando claro que falava de improviso ao insistir em comentar sobre o seu time de futebol do coração — o Atlético Mineiro — e citar o menino feio que ia num sítio em Betim, Minas Gerais, quando nem luz elétrica tinha no município que hoje abriga a maior fábrica Fiat do mundo. “Educação, educação, educação. Era isso que minha mãe mais falava”, contou o novo presidente da entidade.

A  assessoria chegou a fazer um discurso, mas ele avisou com antecedência que preferia apenas um esboço porque queria falar sem ler. Além de contar um pouco de sua história pessoal – perdeu o pai com 5 anos e foi criado pela mãe, Maria, junto com seus três irmãos —, Leite citou por várias vezes uma entrevista do Roda Viva, da TV Cultura, que tinha visto na véspera mas que fora gravada em 1992 com o então presidente da Anfavea, Luiz Adelar Scheuer.

Na época, as então chamados new comers estavam chegando ao Brasil e começaram a ocupar espaço até aqueles dias dominado pelas quatro marcas veteranas, GM, Volkswagen, Fiat e Ford. Passadas exatas três décadas, até hoje nenhum executivo das montadoras que se instalaram no Brasil a partir dos anos 90 conseguiram chegar ao comando da Anfavea.

Se fosse mantida ua tradição que perdurou por um tempo significativo na Anfavea, a de o 1º vice ser o próximo presidente da Anfavea, Fabrício Biondo, o 1º vice-presidente de Luiz Carlos Moraes que quando eleito era responsável pela comunicação da PSA, poderia ter quebrado o rodízio entre Mercede-Benz, Fiat, Volkswagen, GM e Ford. Mas como a PSA se juntou à FCA, o novo presidente, embora Stellantis, acaba consolidando essa tradição por se originário da Fiat.

Além de advogado, Márcio Leite também é contador. Tem mais de 24 anos de atuação profissional no setor e vivência por quase uma década nas consultorias KPMG e Deloitte antes de ingressar na Fiat. É mestre em Direito Empresarial e pós-graduado em Gestão Estratégica, com especialização em Finanças. “Senso de urgência” foi a frase repetida por ele várias vezes em seu discurso, ao citar o importante aprendizado que teve na convivência profissional com Cledorvino Belini, ex-presidente da Fiat e da Anfavea.

Marina Willisch, por sua vez, atua há mais de 15 anos no setor automotivo. Também foi a primeira mulher a ocupar o cargo de vice-presidente de relações governamentais e comunicação da GM América do Sul. Iniciou na empresa em 2013 como diretora tributária para o Brasil, assumindo, em 2015, a liderança da área para a região. É mestre em Direito Corporativo e Economia pela Fundação Getúlio Vargas, e Bacharel em Direito pela PUC/SP.


Fotos: Divulgação/Anfavea

Alzira Rodrigues
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