Nesta sexta-feira, 19, a Plascar iniciou oficialmente a produção de parachoques para os modelos Volkswagen Polo e Virtus. Mais do que ver seus produtos novamente em veículos da montadora que volta à carteira de clientes depois de vários anos, o fornecimento simboliza, sobretudo, a consolidação da recuperação da cinquentenária empresa brasileira de autopeças, que esteve à beira da liquidação há menos de uma década.
Mesmo com as veteraníssimas unidades de Jundiaí, SP, Varginha e Betim, MG, o novo contrato só se materializou com a construção de uma quarta fábrica, localizada em Caçapava, SP, distante a não mais do que 20 minutos da planta da Volkswagen no vizinho município de Taubaté e inaugurada na quinta-feira, 18.
A nova planta ocupa 22 mil metros quadrados de edificações de parque industrial instalado à beira da Via Dutra, eixo rodoviário que liga São Paulo ao Rio de Janeiro e que conta com mais quatro montadoras: GM, em São José dos Campos, SP, e Stellantis, Jaguar Land Rover e Volkswagen Caminhões e Ônibus, no sul-fluminense.
A opção por Caçapava, após sondagens em diversas regiões no entorno da Grande São Paulo, implica, portanto, uma olhar bem mais adiante do que os contratos estabelecidos com a Volkswagen e que contemplam o fornecimento de parachoques também para o Polo Track, futuro veículo de entrada da marca que será fabricado em Taubaté a partir de 2023 em substituição ao Gol.
Potencial para muito mais
Paulo Silvestri, presidente da Plascar, reconhece que a intenção é ampliar a carteira de clientes da nova planta o quanto antes possível — fora os parachoques, a Plascar é reconhecida também pela fabricação de painéis, consoles, revestimentos de portas, itens de iluminação, além das pequenas peças que compõem esses conjuntos.
Por enquanto, contudo, há apenas negociações. “Mas Caçapava está bem posicionada para atendermos clientes em outras regiões de São Paulo, como o ABC”, sugere o executivo, que descerrou a placa inaugural da planta ainda em meio a uma grande área vazia, ao lado de três injetoras e da gigantesca cabina de pintura automatizada importada da Alemanha e que conta com dezesseis robôs capazes de pintar um parachoque em menos de 30 segundos.
O espaço vazio e o porte dos equipamentos já instalados sinalizam as potencialidades da nova unidade. Sem precisar os valores investidos — “foram algumas dezenas de milhões de reais”, diz apenas —, Silvestri ilustra que Caçapava, sozinha, quando em plena capacidade, poderia atender à produção total da Volkswagen no Brasil, por exemplo.
O ritmo inicial da linha, porém, obedecerá exclusivamente à demanda da Volkswagen, suprida em regime just in time, com os parachoques entregues direto na linha de montagem de Taubaté no máximo três horas depois do pedido.
Para isso, Caçapava começa a operar em dois turnos de trabalho com 65 funcionários, quadro que, assegura o presidente, será ampliado para 90 até o começo de 2023 e logo na sequência para 150 colaboradores.
Aposta alta
Entre a decisão final de ter uma nova unidade e a inauguração, foram apenas dois anos. Mas bem os dois anos da pandemia, nos quais qualquer projeção era mero exercício de futurologia. “Apostamos na retomada do mercado, no futuro”, enfatiza Silvestri, que assegura que, mesmo com a lenta recuperação do mercado e da produção automotiva, não alterou uma vírgula do projeto original de Caçapava.
A postura foi a mesma para as demais três fábricas do grupo — “nossa primeira preocupação era não demitir” —, tanto que dos 1,8 mil trabalhadores que dispunham há quatro anos, chegaram a 2022 com 2,3 mil e sem um dia de portas integralmente fechadas, mesmo quandos as montadoras interromperam a produção por conta das restrições sanitárias ou falta de peças. “Aproveitamos esses períodos para melhorias, atualização e até limpeza nas fábricas.”
Silvestri sabe bem os riscos que o novo empreendimento, que desde 2018 integrava os planos da empresa, representaria em meio à crise e diz que transparência das tratativas com fornecedores e potenciais clientes dirimiram as nuvens mais pesadas do horizonte.
A própria experiência do corpo executivo da empresa representou um lastro para a continuidade do projeto. Silvestri, por exemplo, ingressou na Plascar em 2018 como representante da Mapa Capital, empresa de participações e — como descreve seu perfil nas redes sociais — especializada em “situações especiais, como circunstâncias desafiadoras para empresas e seus acionistas, demandando decisões ágeis e objetivas”, e que assumiu assumira a Plascar naquele ano.
Pelo cenário que Caçapava descortina agora, parece que os movimentos encaminhados desde então foram acertados, suficientes para retirar a Plascar do quadro crítico de sete anos atrás, quando a produção automotiva caiu e agravou o nível das vendas já decrescentes e de dificuldades administrativas e financeiras da tradicional produtora de componentes plásticos, agora de volta aos holofotes.
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Foto: Divulgação
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