Não raro alguém lança mão da expressão “gigante com pés de barro” para definir a indústria automotiva brasileira. É justificável: embora dominado por multinacionais, o setor depende de dezenas de empresas médias e de outras centenas de pequenas que, recorrentemente, sofrem com a falta de fôlego financeiro para, em tempo bons, fornecer produtos e serviços com qualidade e, em tempos de crise, até mesmo sobreviver.
Esse biorritmo tem ganhado contornos particularmente preocupantes com a produção nacional de veículos concentrando-se em produtos cada vez mais sofisticados — e caros — para compensar o encolhimento de um mercado que, há duas décadas, imaginava-se pelo menos duas vezes maior, mas que agora sinaliza crescimento marginal no curto prazo.
O desafio das pequenas e média empresas, portanto, tende a ser redobrado daqui para frente, exatamente quando o movimento pela nacionalização ganha força como alternativa a negócios com paridade câmbio muito desfavorável e as incertezas logísticas afloradas nos últimos três anos.
Entregar novos produtos com qualidade e no tempo adequado demandará capacidade de desenvolvimento e recursos financeiros e técnicos que boa parte delas, para não dizer a maioria, não tem. Traduzindo: precisarão de engenharia, com profissionais e equipamentos atualizados.
E isso custa. E muito. Uma solução para contornar essa falta de fôlego é ter esses recursos somente quando necessários e na medida certa. Foi essa percepção que norteou a Multittech, empresa de engenharia localizada em Holambra, SP, a criar uma plataforma de assinatura de serviços de engenharia.
“Criamos uma fórmula para tornar esses serviços mais acessíveis. Especialmente para uma empresa pequena, os custos são altos para manter softwares atualizados, bem como ter pessoal permanentemente treinado. Com a assinatura, as empresas não precisam alocar recursos nessas áreas e podem destiná-los para outras necessidades”, sublinha Marcelo Gomes, diretor de desenvolvimento de negócios em engenharia.
A assinatura da plataforma funciona exatamente como qualquer outro programa do gênero. A depender da necessidade e disponibilidade financeira do cliente, são diversos planos que atendem a um determinado projeto ou período e que podem variar ainda em decorrência da quantidade de projetos ou mesmo da solução identificada para eventuais problemas.
Caso necessário, uma equipe de consultores da Multittech pode elaborar um diagnóstico para sugerir pacotes pré-definidos ou mesmo configurar um específico, customizado. Paga-se por mês, como qualquer programa de, por exemplo, assinatura de veículo ou de internet.
A empresa dispõe de corpo de pelo menos 50 engenheiros e técnicos, um grupo que pode trabalhar no desenvolvimento de um determinado projeto, complementar a equipe de engenharia do cliente ou mesmo atuar sozinho, livrando o cliente de manter uma área própria e custos fixos.
Lançado este ano, o serviço já começa a surtir resultados práticos. Cerca de 40% das atividades da empresa estão ocupadas por projetos de nacionalização de componentes. Ricardo Nogueira, CEO da Multittech entende que o porcentual retrata bem o momento da cadeia automotiva.
Na opinião do executivo, depois de endereçar muitos desenvolvimentos para outros mercados, especialmente na última década, as empresas agora se vêem na necessidade de contar com soluções e fornecedores fisicamente mais próximos.
“A indústria automotiva era a que mais comprava esse tipo de serviço, o carro-chefe da engenharia, mas passou por mudanças e levou muito desenvolvimento para fora do País. Isso ocmeçou a mudar novamente”, pondera o CEO Ricardo Nogueira.
A própria Multittech nasceu no embalo das antigas demandas da indústria, ainda em 1997, e ampliou seu leque de atividades desde então como repsota a outras surgidas nos anos seguintes. De fornecedora de softwares voltados para o segmento, passou a atuar como um verdadeiro centro de desenvolvimento e testes.
A estrutura física criada em Holambra a partir de 2019, num primeiro momento, e depois de 2014, no site atual, conta, dentre outros recursos, com equipamentos de simulação, laboratórios de testes, de segurança veicular, de emissões de ruídos, componentes eletrônicos e até pistas físicas para automóveis e máquinas agrícolas.
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Em recente trabalho para um cliente, por exemplo, a Mutlittech fez a validação das guarnições de portas dos últimos lançamentos de veículos da Honda . A empresa também tem trabalhado muito em testes de bancos e cintos de segurança.
O universo de potenciais clientes do serviço de assinatura, assim, é grande. Em média, calcula Gomes, a Multittech desenvolve trabalhos para cerca de 120 empresas do setor automotivo a cada ano — uma parte relevante de sua clientela, que engloba ainda a indústria aeroespecial e de bens de capital.
“Mas há pelo menos o dobro de fornecedores tier 2 ou 3 que poderiam utilizar essa ferramenta e que têm dificuldades com o caixa ou com seus departamentos de engenharia defasados”.
Foto: Divulgação
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