Operação industrial atua como agente transformador ao mesmo tempo em que consolida polo automotivo em Pernambuco
Foi entre os atendimentos aos clientes de uma padaria em que trabalhava que Elisabeth Henrique de Melo começou a projetar um futuro melhor. Antiga parada habitual de quem parte de Recife para Goiana (PE), a atendente já se via vestida na “farda” que aquela gente que passava por ali usava para dar expediente na fábrica da então FCA, atual Stellantis, inaugurada oficialmente em abril de 2015.
Aos 33 anos, três filhos e apenas o Ensino Médio, Elisabeth correu atrás. Por meio de uma empresa de RH conseguiu entrevista e trabalho para uma nova perspectiva de vida. Há sete anos na Stellantis, hoje, líder de time da área de montagem, Elisabeth se transformou. A renda melhorou, faz faculdade de Administração, tem mais tempo e, neste momento, entusiasmada por mais uma conquista ligada ao ramo que lhe abriu portas: a carteira de habilitação.
“Foi a melhor decisão da minha vida, não há dúvida. Como única mulher de oito irmãos, a família tem muito orgulho. Faz com que a gente não pare de crescer, de trabalhar de voltar a estudar”, resume empolgada.
A história de Elisabeth traça um recorte preciso da força transformadora proporcionada pela chegada do complexo industrial da Stellantis em Pernambuco, em especial em Goiana e municípios circunvizinhos. A dinâmica econômica e, a reboque no processo, melhorias social e educacional.
Na cerimônia que marcou o início das atividades, Sergio Marchionne, então CEO da FCA, trazia para o discurso justamente o que fez e faz toda a diferença para Elisabeth.
“É uma revolução para todos aqui. Quero destacar a evolução das pessoas deste Estado, de quem se levanta todos os dias com o sonho de construir um futuro melhor, mesmo quem nunca tinha feito um carro antes, com essa natureza autêntica trabalhadora que não se deixa abater pelas dificuldades. Como toda história de sucesso, pessoas são fundamentais, sem elas não teríamos como realizar o que fizemos aqui.”
A fábrica da Stellantis em Goiana nasceu como uma das mais modernas do mundo, resultado de um investimento de R$ 7 bilhões. Passa ainda por um ciclo de outros R$ 7,5 bilhões até 2025. Os aportes se refletem como agentes transformadores na região.
Segundo dados consolidados pela empresa consultoria Ceplan, de Recife, desde a instalação da unidade o emprego direto e indireto gerado cresceu, em média, 5,6% ao ano, evoluindo de 10,1 mil para 14,8 mil pessoas de 2015 a 2022. Somente na população da fábrica, começou com 2,5 mil e, hoje, emprega 5 mil. A massa engorda na medida que a fabricante atrai mais parceiros.
Apenas no complexo junto à fábrica estão instalados 16 fornecedores, que formam um base de 34 empresas da cadeia de autopeças no estado, das quais ao menos seis surgidas nos últimos quatro anos. A meta da Stellantis, no entanto, é de trazer mais 15 até 2025.
A mais recente foi a Yazaki, que se instalou em Bonito, no Agreste Central pernambucano, no fim do ano passado para fornecimento de chicotes elétricos. A companhia já emprega o correspondente a mais de um terço do emprego local em cidade com população estimada de 38 mil habitantes, dos quais apenas 7% classificados como ocupados pelo IBGE.
O impacto da força motriz acionada pela Stellantis fica mais evidente com a evolução da participação da região de Goiana na economia do estado. Em 2015, o município respondia por 2,5% no PIB estadual e, em 2019 (último dado disponível pelo IBGE) colaborou com 5,2% ao somar R$ 10,2 bilhões. O resultado posicionou a cidade como a quarta maior na produção de bens e serviços de Pernambuco.
Nascida para ser de alta de desempenho, a fábrica pernambucana produz atualmente quatro modelos (Fiat Toro, Jeep Renegade, Jeep Compass e Jeep Comander) em uma única linha em ritmo de três turnos desde 2018. A unidade é capaz de produzir 48 carros por hora de um catálogo composto de 57 versões. Somente a área de funilaria, a mais automatizada da unidade, tem 600 robôs.
“A logística é o maior desafio da planta”, observa Mateus Marchioro, plant manager do Polo Automotivo de Goiana. “Temos 350 famílias de materiais e 60 rotas de fornecimento para as linhas em peças sequenciadas, o que envolve 650 profissionais.”
Para manter azeitada a operação e à prova de erros mais uma vez pessoas são a peça-chave no processo. “Dentre as 50 fábricas do grupo, Goiana tem o segundo melhor custo de transformação e o objetivo é se manter com a mais moderna do grupo”, revela Marchioro. “Para isso há um ecossistema de inovação que desenvolve projetos para virar padrão na fábrica.”
Iniciativas em capacitação e pesquisa em parceria com a academia aperfeiçoam a operação da fábrica de maneira contínua. Um dos projetos, por exemplo, usa a tecnologia 5G – a primeira aplicação industrial da América Latina – para aumentar o controle de qualidade. De maneira simplista, a ideia foi capturar a imagem dos 97 emblemas utilizados para ensinar o equipamento identificá-los e, assim, evitar perdas.
Por outra frente, time da área de funilaria analisou dados para trazer à linha de montagem informações antes obscuras. O trabalho detectou micro paradas no processo de solda que impactavam no longo prazo. Ao atacar o problema, a equipe desenvolveu ferramenta capaz de medir a velocidade de trabalho, identificar e corrigir eventuais desvios. O resultado foi um ganho de seis minutos e redução no tempo e no custo da manutenção.
Ao contribuir com o desenvolvimento da região e de pessoas, a Stellantis também está engajada na restauração. Instalada em área que foi um gigantesco canavial, a fabricante tem área dedicada a trazer de volta a mata nativa do passado.
Time da sustentabilidade da empresa se debruçou em estudos que reúnem o perfil da flora da região desde 1530. De 630 espécies identificadas, 289 foram selecionadas para recuperar o ecossistema. O Somente o Viveiro da fabricante, centro que converge as atividades de sustentabilidade, conta mais de 250 mil mudas plantadas, 100 mil já ganharam moradia definitiva na área do complexo, que deverá contar 208 mil nos próximos dois anos.
Fotos: Stellantis/Divulgação
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