AAnfavea, entidade que representa os fabricantes de veículos instalados no País, confirma que está tentando colocar de pé novamente o Salão do Automóvel de São Paulo – nome que provavelmente será alterado para colar no evento a ideia de mobilidade, para além dos veículos, seguindo a tendência mundial deste tipo de acontecimento.
Para convencer as empresas associadas a voltar a exibir seus produtos na mostra paulistana, está em formulação uma proposta de salão remodelado, mais barato, com test drives, venda de automóveis e de volta ao Anhembi – mas em ambiente que promete ser bem diferente do antigo e insuportavelmente quente pavilhão, que passa por reformas e fica pronto no meio do ano que vem, com ar-condicionado.
O evento ainda não está certo, pois a proposta não está pronta e será difícil convencer as associadas, que após o último salão, realizado no São Paulo Expo em 2018, perderam o interesse pela exibição, alegando custos altos e resultados baixos.
Seja como for, enquanto trabalha por aprovar um salão para chamar de seu, a Anfavea já fez uma pré-reserva de nove dias no novo Anhembi, para realizar o evento em meados de novembro de 2024. A decisão final, para confirmar a reserva, tem de ser tomada nos próximos meses, no máximo até o fim deste ano.
Interesse do público há
Enquanto os departamentos de marketing sem tantos recursos a investir argumentam que este tipo de exibição não atrai mais a atenção do público, centenas de pessoas se amontoam em espaços nos salões para ver automóveis que jamais poderiam comprar. Mesmo assim, para além do entretenimento, todo salão é tido como um promotor de vendas, pois acende desejos de consumo. Ou seja, a mágica continua, o que falta é dinheiro.
O interesse do público por este tipo de evento continua elevado. Apesar de todo o discurso contrário das montadoras – para justificar a falta de recursos em tempos de mercado magro – a maioria dos grandes salões do mundo, mesmo menores e reformulados para atender novas necessidades e visões, continuaram a acontecer após a crise da pandemia, como é o caso de Detroit e Los Angeles nos Estados Unidos, Paris na França e Munique (em substituição a Frankfurt) na Alemanha.
Todos estes mudaram mas não acabaram, como foi o caso de São Paulo, realizado por 58 anos, de 1960 a 2018 – os primeiros no Parque Ibirapuera, a partir de 1970 no Anhembi e, em 2016 e 2018, no São Paulo Expo.
Nunca faltou público, sempre um dos maiores do mundo para este tipo de evento: foram cerca de 400 mil visitantes registrados nos dezesseis dias da primeira mostra e 742 mil pessoas circularam nos dez dias da última exibição que contou com 29 marcas de automóveis em exposição. Não houve até agora nada parecido com isto no Hemisfério Sul.
Ainda assim, no começo de 2020, antes de a covid-19 ser um impeditivo, a maioria das montadoras já tinha desistido de participar do Salão de São Paulo que estava marcado para acontecer no fim daquele ano. A Anfavea afirmou que tentaria encontrar uma nova fórmula para realizar o evento em 2021. Aí veio a pandemia e jogou uma pá de cal sobre qualquer proposta.
No início de 2022 a entidade chegou a divulgar a realização do São Paulo Motor Experience nas dependência do Autódromo de Interlagos, com tudo que os fabricantes diziam querer, como test drives nas pistas, exposições estáticas nos boxes, negociações de compra e venda. Mas com a falta de semicondutores faltaram carros para vender e não se falou mais no assunto.
Proposta para mudar
Para tentar ressuscitar o salão brasileiro a associação dos fabricantes está consultando informalmente alguns jornalistas especializados, acostumados a visitar salões no mundo inteiro, e também está visitando eventos do tipo que já passaram por reformulações para continuar a acontecer.
Foi o que motivou a presença de representantes da Anfavea, incluindo o presidente Márcio de Lima Leite, acompanhados de diretores da empresa organizadora de eventos RX (antiga Reed Alcântara), no mais recente NAIAS, North America International Auto Show, realizado em Detroit. Um dos mais tradicionais salões do mundo já vinha de anos de decadência, ficou menor, mais regional e menos internacional, mas renasceu das cinzas com novos expositores da área de mobilidade e oferta de test drives aos visitantes – além de ter mudado a data de janeiro do congelante Inverno de Michigan para o quente Verão em agosto.
Representantes da Anfavea prometem nos próximos meses continuar a conversar com mais gente, com as associadas, com parceiros de negócios, consultorias e a RX para modelar a nova fórmula do salão, mas já estipulou quatro pilares para sustentar o evento: resgate da emoção do consumidor com o mundo automotivo, exposição de tecnologias, experimentação com test drives internos e externos, e vendas de veículos no local.
Está em negociação com instituição financeira a avaliação e compromisso de compra do carro usado do freguês bem ao lado do pavilhão do Anhembi, incluindo oferta de financiamento para aquisição do zero-quilômetro.
Se os fabricantes oferecerem preços promocionais atrelados a financiamentos acessíveis o interesse do público aumentará e as vendas poderão gerar receita para justificar a participação na exibição. Mas também deve haver preocupação em não igualar o salão a um feirão promocional qualquer, para que a mostra sustente seu charme. É um equilíbrio difícil.
O nome do evento também está em estudo, porque deverá expressar o que seja uma feira de mobilidade, para atrair novos expositores além das montadoras, como fornecedores de componentes e tecnologias, modais alternativos de transporte, biocombustíveis, eletrificação, compartilhamento de veículos e por aí afora.
Também está na pauta de desejos para o novo salão ações para segmentos específicos como universidades e pessoas com deficiência [PcD], além de exibição de tecnologias, como veículos autônomos e elétricos.
Segundo fontes ligadas às negociações pela realização do novo salão, o foco está em criar uma fórmula que convença os maiores fabricantes, líderes de mercado, a participar do evento. Se eles vierem os outros vêm em efeito manada – e o público vem atrás.
* Pedro Kutney é jornalista especializado em economia, finanças e indústria automotiva. É autor da coluna Observatório Automotivo, especializada na cobertura do setor automotivo. Ao longo de mais de 35 anos de profissão, foi editor do portal Automotive Business, editor da revista Automotive News Brasil e da Agência AutoData. Foi editor assistente de finanças no jornal Valor Econômico, repórter e redator das revistas Automóvel & Requinte, Quatro Rodas e Náutica.
Poto: Divulgação
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