Neta S

A sempre dinâmica indústria automobilística “impõe” mudanças também nos órgãos de imprensa especializados que se dedicam ao setor, pelo menos na predominância dos temas que eles abordam.

Basta “folhear” as páginas da internet para se perceber que há até bem pouco tempo, menos de dez anos, a China ainda aparecia muito pouco. Seus exóticos mercado e veículos eram tão somente curiosidades aos olhos de quem habitava este lado de cá do planeta.

Interessava noticiar, no máximo, os gigantescos números de vendas internas supridos então, na quase totalidade, por dezenas de desconhecidas marcas locais e produtos de duvidosos estilo e nível tecnológico.

De três anos para cá, porém, é praticamente impossível não falar, quase diariamente, da indústria de lá, de seus arrojados automóveis e inovações técnicas ou da expansão internacional de três ou quatro marcas chinesas, movimento que, tudo indica, apenas começou a “infernizar” a indústria ocidental.

Bússola em Pequim

O Salão de Pequim, realizado no fim de abril e já uma das maiores se não agora a maior vitrine de lançamentos da indústria automobilística, estabeleceu-se como referência definitiva para quem deseja saber para onde vai o setor.

Durante o evento ficou claro que as montadoras chinesas aprenderam rapidamente o que não devem fazer e, mais ainda, o que já podem fazer com os recursos e conhecimentos que desenvolveram  — e se não desenvolveram, compraram — e com produtos e tecnologias que já agradam consumidores de diferentes regiões do globo.

A China automotiva gera “pautas” para imprensa corriqueiras também por conta de sua notável voracidade em busca de novos mercados.

Quando não somos informados do início das vendas de um novo carro chinês na Europa — por preço, diga-se, mais do que competitivo —, chega a notícia de que uma montadora chinesa vai construir fábrica lá ou no México ou na América do Sul.

Não dá para fugir. Até porque parece que as tradicionalíssimas concorrentes ocidentais têm atuado de maneira reativa, apenas com intuito de combater a temida e acelerada invasão chinesa, sobretudo de seus carros eletrificados, e não se antecipar a ela.

Aí voltam, ainda que indiretamente, China e suas marcas aos textos jornalísticos. Mesmo aqueles que abordam, por exemplo, as vendas de veículos nos Estados Unidos, “templo da liberdade econômica”, mas que dobrou as tarifas de importações de veículos para … (adivinhem!) barrar enquanto puderem os carros chineses.

Alerta de duas décadas

Está difícil, é bom confessarmos, encontrar outros “ganchos”, para utilizar o jargão jornalístico, e diversificar a cobertura do setor. E tudo indica que ficará ainda mais, como cumprimento de uma profecia de Alain Keruzoré, que presidiu a Valeo na América do Sul por quase duas décadas

Há cerca de 20 anos, o executivo já reconhecia a dificuldade para enfrentar a concorrênia chinesa no segmento de palhetas de limpadores de para-brisa, histórico do grupo francês, e alertava em seu ótimo português afrancesado a quem quisesse ouvir:

“Em uma geração, as montadoras ocidentais terão que reaprender a fabricar veículos com os chineses”.

Na prática, uma geração já passou. Se a indústria ocidental ainda não precisou reaprender a produzir veículos com a chinesa, deveria estar a caminho. E, importante, nem poderá dispor de uma segunda geração para isso.


Foto: Divulgação

George Guimarães
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