Minha filha Betina, agora com 11 anos e ótima de garfo, sempre deu trabalho para experimentar algum comida fora do rotineiro cardápio lá de casa. Invariavelmente, dizia que não gostava, ainda que jamais tivesse nem ao menos sentido o cheiro daquela exótica — para ela, claro — iguaria.
Tenho quase certeza que não foi muito diferente do que ocorreu com a maioria das crianças em algum momento da infância. Mas não é que ainda há adultos que repetem a Betina de alguns anos atrás?
No caso, não por evitarem um novo prato e sim por se negarem a conhecer o diverso. A história de que a primeira impressão é a que fica tem lá fundamento. Mas e a segunda? A terceira?
A imagem deixada pelos primeiros carros chineses negociados no Brasil há mais de uma década, de fato, não poderia ser boa. Pelo contrário, serviu para jogar por terra, com motivos de sobra, a boa vontade de qualquer entusiasta pela novidade.
Eram frequentes então olhares curiosos e ao mesmo tempo irônicos de quem se deparava com um carro “xing ling”, como preconceituosamente dizia-se, e ainda se diz, de um produto chinês, ainda que não haja pessoa no mundo que não usufrua ou dependa de algum item fabricado na China ou que contenha componentes de lá.
Tenho andado com alguma frequência com carros da BYD e GWM, as marcas chinesas mais apetitosas por consumidores brasileiros e que já encaminham a produção local. Os olhares curiosos ainda persistem, mas asseguro que os irônicos não mais.
Seja pelo estilo ou tecnologias que expressam, os SUVs, hatches e sedãs dessas duas marcas entraram, sim, para o rol de veículos aspiracionais. Isso considerando que ainda um universo restrito de consumidores, relativamente ao total da frota brasileira, já dirigiram um deles.
Se se permitirem experimentar — como hoje minha bem mais flexível filha enfrenta uma azeitona, até para dizer que não gosta mesmo! —, muito dificilmente encontrarão os deméritos dos pioneiros chineses ou mesmo de tradicionais marcas e produtos ocidentais.
Alguns, se não quase todos, impõem perguntas de difícil respostas até para os mais reticentes. Por exemplo, como pode o TAN (foto), SUV a bateria de sete lugares da BYD com seus mais de 500 cavalos e acabamento primoroso, não ostentar na grade dianteira o logotipo de uma marca premium europeia?
Há quem possa e deva mesmo divergir, mas será preciso antes fazer um bom test-drive e se esforçar para encontrar argumentos contrários convicentes. Algo desnecessário quando se deparavam com chineses de uma década atrás e que não alcançavam a nota de corte do mais condescendente “olhômetro”.
Experimentem. Está de pé o desafio.
Foto: AutoIndústria
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