A cada dia que passa as montadoras europeias aumentam o tom das lamúrias para que a União Europeia reavalie prazos e limites dos programas de redução de emissões de poluentes da frota de veículos. Palavras e expressões como desesperador, preocupante e urgência são cada vez mais frequentes nas manifestações da maioria dos dirigentes e em notas oficiais da Acea, a associação dos fabricantes europeus de veículos.
Nesta quinta-feira, 19, a entidade emitiu um verdadeiro apelo em tom de súplica. Já na abertura do texto publicado no site da instituição, afirma:
“A contínua redução da quota de mercado dos automóveis elétricos a bateria envia um sinal extremamente preocupante à indústria e aos decisores políticos. Os fabricantes de automóveis europeus apelam, portanto, às instituições da União Europeia para que apresentem medidas de alívio urgentes antes que novas metas de CO2 para automóveis e comerciais leves entrem em vigor em 2025”.
O tom alarmante prossegue por todo o restante do documento, ainda que a entidade diga que a indústria investiu bilhões de euros no desenvolvimento e produção de eletrificados e que apoia o Acordo de Paris e as metas de descarbonização dos transportes no bloco para 2050.
“Hoje, a tecnologia e a disponibilidade de veículos com emissões zero não constituem estrangulamentos. Infelizmente, os outros elementos necessários para esta mudança sistêmica não estão implementados. Um fator agravante é a rápida erosão da competitividade da União Europeia”, diz a Acea, que reforça que as vendas de elétricos ingressou em trajetória descendente contínua.
A entidade lista como principais fatores para o encolhimento da demanda por veículos a bateria na Europa a alguns pontos bastante conhecidos, como ausência de infraestruturas de carregamento e reabastecimento, ambiente de produção competitivo, energia verde acessível, incentivos fiscais e de compra e fornecimento seguro de matérias-primas, hidrogênio, baterias e a confiança dos consumidores.
“As regras atuais não têm em conta a profunda mudança no clima geopolítico e econômico ao longo dos últimos anos e a incapacidade inerente da lei para se ajustar à evolução do mundo real corroi ainda mais a competitividade do setor”.
Os fabricantes de automóveis europeus, unidos na Acea, apelam às instituições da União Europeia para que apresentem medidas de alívio urgentes antes que novas metas de CO2 para automóveis e comerciais leves entrem em vigor em 2025.
Segundo a Acea, mantidos os atuais prazos e parâmetros, os fabricantes têm a “perspectiva assustadora de multas de vários bilhões de euros, recursos que de outra forma poderiam ser investidos na eletrificação”, ou cortes de produção desnecessários, com perdas de emprego e enfraquecimento da cadeia automotiva da região no momento de aumento da concorrência baseada em outras regiões — leia-se China, em particular.
Os fabricantes também pedem que a Comissão Europeia revise a regulamentação de CO2 para veículos leves e pesados atualmente previstas para 2026 e 2027, respectivamente, até 2025. “A indústria não pode dar-se ao luxo de esperar pela revisão dos regulamentos relativos ao CO2 em 2026 e 2027, precisamos de medidas urgentes e significativas agora para inverter a tendência descendente, restaurar a competitividade da indústria e reduzir as vulnerabilidades estratégicas.”
Dissidência da Stellantis
Quarta maior fabricante global de veículos, a Stellantis não incorpora o discurso de outras montadoras europeias e de Acea, cujo presidente é Luca de Meo, CEO da Renault. A razão é ismples, segundo Carlos Tavares, CEO da empresa: a Stellantis está pronta para competir depois de anos de preparação para as novas regras.
“As regras são conhecidas há anos. Minha tecnologia está pronta, meus carros estão prontos”, disse o executivo, que assegura que sua empresa vinha trabalhando nesse período para cortar custos — uma tarefa que, segundo ele, envolveu “decisões difíceis” — e que agora está lançando gama de elétricos de baixo custo sob as marcas Citroën, Opel e Fiat. Alguns, com preços a partir de € 20 mil.
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