A economia circular tem ainda muitos hiatos na cadeia da indústria automotiva brasileira. Alguns segmentos começaram em anos recentes e outros somente agora encaminham ações que, em última instância, levam a atividades sustentáveis e economicamente viáveis.
Mas alguns elos dessa engrenagem já têm experiências bem mais adiantadas e que, a depender também de implementação de políticas públicas, poderão se expandir de forma exponencial nos próximos anos. É o caso de das empresas que se dedicam à desmontagem de veículos e comércio de peças usadas.
Com autopeças e componentes retirados de automóveis e comerciais leves sinistrados, elas não só atendem o mercado de reposição, como asseguram o reaproveitamento de matérias-primas e, se não houver meio de reutilização, a destinação ecologicamente correta desses itens e demais resíduos.
A Renova Ecopeças, a maior recicladora de veículos do Brasil, é exemplo bem acabado do quanto a atividade evoluiu e o quanto ainda pode avançar.
Desde sua criação, há onze anos, a empresa do Grupo Porto desmontou em suas instalações na Zona Oeste de São Paulo, cerca de 25 mil veículos, operação que permitiu a reinserção de aproximadamente 600 mil autopeças no mercado.
Na prática, toneladas de plásticos, peças estampadas e forjadas, componentes eletrônicos e matérias-primas como aço, ferro, alumínio, cobre e outros metais nobres foram reaproveitadas. Assim como milhares de litros de óleos e combustíveis retirados antes da desmontagem e encaminhados para descarte ambientalmente mais adequado.
Daniel Morroni, diretor da operação, calcula que 85% dos itens de um automóvel, a depender do estado de cada item, podem ser reaproveitados e oferecidos no mercado de reposição a preços de 40% a 60% mais baratos do que o mesmo componente novo.
Alguns aspectos reforçam o comprometimento e a transparência do centro de desmontagem de veículo, que negocia as autopeças em site próprio, plataformas de e-commerce, aplicativos e até pessoalmente, em loja contígua à linha de desmontagem e ao estoque de 25 mil itens, dentre eles transmissões e motores completos.
Por exemplo: todo e qualquer item retirado do veículo sinistrado — cuja baixa da documentação junto ao órgão responsável é o primeiro passo do processo de reciclagem — recebe um selo de origem emitido pelo Detran de São Paulo e tem garantia de 90 dias da própria Renova.
Outro: são aproveitadas somente as peças rigorosamente originais da montadora — as chamadas paralelas encaminhadas para descarte — e nenhuma que envolva segurança, como amortecedores, barras de direção, eixos ou componentes do freio.
“Mesmo visualmente em boas condições, itens de segurança precisam estar absolutamente íntegros. Assim, esses componentes são encaminhados a empresas parcerias para reaproveitamento da matéria-prima ou, em alguns casos que possam ser recondicionadas”, explica Morroni.
A Renova vende a reparadores e clientes finais perto de 5 mil autopeças por mês, classificadas de acordo com a condição de conservação em que se encontram, o que serve também como parâmetro para a precificação, assim como o valor do mesmo componente novo.
Anualmente, a empresa, que conta com 83 funcionários em toda a sua estrutura — setenta na linha de desmonte —, pode desmontar 2,7 mil automóveis e comerciais leves, cerca de 40% comprados da Porto Seguro e o restante de outras seguradoras. Em nova etapa, já iniciou também a desmontagem de motocicletas.
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O potencial de ampliação da operação e de todas as atividades dos centros de desmontagem de veículos, é grande, no entender de Morroni. Ele justifica essa perspectiva com o fato de o Brasil ainda reciclar apenas 1,5% dos veículos com processos certificados e adequados — ante índice de 95% nos Estados Unidos, por exemplo — e políticas públicas em vigor e outras a caminho.
O executivo cita a atual Lei do Desmonte, que concede incentivo de ICMS a produtos usados, mas ainda restrita ao Estado de São Paulo. A adoção de mecanismo semelhante em outros estados, avalia Morroni, poderia ajudar na decisão, sempre em estudo, de a Renova criar outras unidades.
A recente criação do Mover, Programa de Mobilidade Verde e Inovação, é outra legislação que contribuirá para o aumento da reciclagem de peças e veículos nos próximos anos, no entender do diretor da Renova.
Dentre outros pontos, o programa do governo federal demanda que as montadoras assegurem o descarte correto de parcela de veículos caso queiram desfrutar de incentivos tributários.
Foto: Divulgação/ AutoIndústria
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