O Brasil, com suas políticas públicas federais e estaduais, subestima a oportunidade da descarbonização com os biocombustíveis como “combustível do presente.”

A biomassa, que há décadas já é o combustível de nosso transporte rodoviário, determinou ao longo das últimas décadas as tecnologias que hoje usamos nos nossos veículos.

Por exemplo, os motores flex, desenvolvidos para o uso do etanol hidratado já há décadas definiu nossa frota circulante de veículos de passeio. Mais de 46 milhões de veículos circulam hoje pelo nosso país com essa tecnologia que desenvolvemos nos primórdios da década de 1990.

O biodiesel, que também há décadas foi testado e liberado pela ANP, é usado no transporte urbano indo para 15% de adição ao óleo diesel em 2015. Sem dúvida, também uma importante contribuição para a descarbonização urbana no transporte público e com oportunidade de expansão desde que seja monitorada com a devida cautela quanto a sua especificação e qualidade no campo.

A adição de 25% a 27% de álcool anidro à gasolina, há décadas, descarboniza por si só nossa gasolina nacional por ser a única gasolina disponível.

Os programas de incentivos para a indústria automobilística como inovar-Auto, Rota 2030 e agora o programa Mover determinaram as tecnologias que hoje circulam nas nossas estradas e dão a possibilidade de o consumidor de contribuir com a redução das emissões de CO2 na mobilidade.

Mas infelizmente usamos pouco deste potencial de descarbonização que temos com o “combustível do presente”.

Atualmente, o preço do álcool nos postos de abastecimento não traz quase nenhum atrativo para se abastecer com o etanol, fazendo com que nossa frota circulante use quase que só a gasolina aditivada com álcool anidro.

Poucos proprietários de veículo flex sabem que podem abastecer com 100% de etanol sem qualquer risco ou prejuízo ao seu veículo flex .

O Governo Federal e seus parlamentares pegam carona no tema “descarbonização “ com seus discursos politicamente corretos sobre a necessidade de descarbonizar o planeta. Porém, poderiam ser bem mais efetivos com políticas públicas que incentivem e viabilizem mais o preço do “combustível do presente”.

O “combustível do futuro”, entre outros o hidrogênio gerado por energia limpa,
está longe de efetivamente fazer diferença na descarbonização que hoje tanto precisamos.

O programa federal “Mover” traz, sem dúvida, uma grande contribuição para a indústria automobilística subsidiando recursos em P&D para os futuros desenvolvimentos de motores híbridos flex como também uma visão de longo prazo da jornada tecnológica que temos pela frente no mercado brasileiro antes de uma controversa ampla eletrificação veicular.

No entanto, o programa Mover, que define o futuro, traz pouca contribuição adicional a descarbonização no presente! O Brasil é o único país no planeta que pode descarbonizar mais no presente e mostrar ao mundo que descarbonizar para nós não é coisa do futuro.

“Combustível do futuro“ já existe hoje em larga escala no Brasil. Só precisamos fazer caber no bolso do consumidor por meio de incentivos diretos ao consumidor, ficando fácil para ele decidir no posto de abastecimento.

Só o Brasil pode descarbonizar muito mais com o “combustível do presente”.


Foto: Divulgação

Besaliel Botelho
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