Definitivamente, os consumidores brasileiros não andam com “boa vontade” com a Peugeot, que, apesar de novos produtos, como o bonito SUV 2008, versões de entrada mais competitivas e tecnológicas, até redução de preços, segue sem reagir nas vendas e, por conta disso, com participação estagnada em 1,1%.
Após os três primeiros meses de 2025 a Peugeot continua como a quinta e última marca da Stellantis em licenciamentos, com 5,9 mil unidades de automóveis e utilitários vendidos, crescimento de 2% ou 163 veículos a mais do que no ano passado, mas em um mercado que cresceu mais de 7% na média.
É a 16ª colocada no geral, junto com a Mitsubishi. Até mesmo a RAM, também do grupo Stellantis e dedicada exclusivamente a picapes de luxo, está à frente em número de veículos negociados.
Mesmo tendo como opção mais barata a Rampage Big Horn, que custa a partir de R$ 238 mil. Em comparação, o Peugeot mais em conta, o 208 com transmissão manual, é oferecido no site da empresa por cerca de R$ 80 mil — R$ 75 mil em valor promocional para abril.
O desempenho comercial do hatch sintetiza bem o quadro de dificuldades que tem caracterizado a caminhada da Peugeot nos últimos anos. Após um ano e meio de ganhar versão 1.0 turbo, o modelo ainda não decolou, como muitos imaginavam.
Mesmo com design atraente e muito bom nível de conteúdo, ocupa a 10ª posição entre os doze carros elencados pela Fenabrave na categoria de hatches pequenos, com pouco mais de 1,9 mil emplacamentos. Imediatamente à frente dele está, por exemplo, o elétrico BYD Dolphin, que tem preço inicial de R$ 160 mil.
A diferença para os líderes do segmento então é brutal. O primeiro colocado Volkswagen Polo teve 21,9 mil unidades vendidas de janeiro a março, onze vezes mais do que o 208, e o vice-líder Fiat Argo, com quem o 208 compartilha a motorização turbo, 19,7 mil licenciamentos, dez vezes mais.
Lançado em agosto do ano passado, com estilo e acabamento instigantes e nível de tecnologia no mínimo em pé de igualdade com os dos melhores veículos da categoria, o 2008 também não alcançou ainda o potencial patamar de vendas que sugeria.
Foram negociadas no primeiro trimestre 3,5 mil unidades do modelo que utiliza a mesma plataforma do 208, ambos produzidos em El Palomar, Argentina. Nos quatro meses em que esteve à venda em 2024, o SUV compacto acumulou 7,1 mil emplacamentos. Desses, 2,2 mil em dezembro, maior volume mensal até agora.
A média aproximada de 1,5 mil por mês é muito pouco para um produto que foi qualificado pela própria montadora como seu mais importante lançamento desde o 206.
O pioneiro hatch brasileiro é o carro de maior sucesso da Peugeot no Brasil desde a inauguração, em 2001, da fábrica de Porto Real, RJ, complexo que passou a fabricar só Citroën após 2023, quando a Stellantis encerrou a produção da geração anterior do SUV compacto.
Não de hoje
As vendas em patamar bem abaixo das concorrentes generalistas não é recente na história da Peugeot brasileira. Em mais de duas décadas, a maior participação de marca, 3,4%, foi registrada lá no distante 2007.
O índice a colocava na 6ª posição no ranking das marcas mais vendidas, atrás somente das então “Big Four” – Fiat, Volkswagen, GM e Ford, nessa ordem —, da também ainda novata Honda e à frente de Toyota e Renault.
Já em 2008, porém, a fatia caiu para 3,1% e desde então não ultrapassou 2,7%, chegando ao piso de 0,7% em 2020.
LEIA MAIS
→ BYD fica próxima de Jeep e Honda no mercado brasileiro
→ No mercado de veículos leves, expansão em março e no trimestre
Hoje a Peugeot vê lá de trás várias concorrentes que começaram a produzir aqui bem depois, como Hyundai, Jeep, Caoa Chery e Nissan, e, desde o ano passado, até mesmo as ainda importadoras BYD e GWM e a própria Ford, que, de volume mais significativo, vende mesmo somente a picape Ranger.
Quando da criação da Stellantis, em 2021, a montadora estabeleceu como uma de suas metas resgatar, em dois anos, os melhores momentos da Peugeot e Citroën no Brasil — exatamente na primeira década do século, quando as participações somadas estiveram entre 5% e 6%.
Ainda está longe do objetivo, mesmo que, com a renovação da linha nacional com C3, C3 Aircross e Basalt, a Citroën tenha começado a reagir. Neste primeiro trimestre, estabeleceu participação de 1,8%, 0,4 ponto porcentual a mais do que em 2024.
Muito mais vendas diretas
O consultor independente Milad Kalume Neto não vislumbra um caminho mais bem pavimentado para a Peugeot no Brasil, pelo menos no curto prazo. Ao contrário, considera até alguma dificuldade extra com a chegada da Leapmotor como sexta marca da Stellantis no mercado brasileiro ainda este ano.
“A Stellantis, claro, concentra maiores esforços nas marcas Fiat e Jeep, as que mais vendem aqui. Também investirá na Leapmotor nos próximos meses. É uma equação complicada”, diz Kalume, que vê em alguns antigos problemas técnicos — há muito superados, faz questão de frisar — um legado negativo ainda a ser extirpado da imagem da Peugeot.
O consultor destaca outro importante “retrato instantâneo” da Peugeot no Brasil em 2025. A dependência das vendas diretas no primeiro trimestre foi muito acima da média do mercado. Dos mais de 5,9 mil veículos negociados, 5,2 mil foram nessa modalidade — quase 88% do total, o dobro da média de 46,5% registrada nas vendas de automóveis e comerciais leves de todas as marcas.
Curiosamente, o 2008, que ainda tem o apelo comercial de ser novidade recente nas ruas e revendas, é o que mais dependeu das negociações diretas entre a montadora e os clientes finais. Nada menos do que 94%: 3,3 mil dos 3,5 mil emplacamentos. No caso do 208, a participação chegou a 85% do universo negociado de janeiro a março.
“Pode até ser até uma estratégia momentânea para fazer um carro chegar mais rapidamente às ruas e assim ser mais visto. Mas também sinaliza alguma dificuldade nas vendas”, pondera Kalume.
Foto: Divulgação
- ZF amplia ferramentas digitais na busca da conexão total - 16 de abril de 2025
- Goiana chega aos 10 anos com alto prestígio para a Stellantis - 16 de abril de 2025
- Crise financeira da matriz chinesa não afeta planos para o Brasil, diz Neta - 14 de abril de 2025
Outro argumento interessante é que um modelo Peugeot é o veículo mais vendido na Argentina.