Por Joel Leite
O teto é a maior e mais plana parte do carro. Diferentemente das laterais (com as portas) da traseira (porta-malas) e da dianteira (capô e motor), não sofre interferências. E está o tempo todo recebendo a luz solar. Porque não utilizar essa aptidão para captar a energia do sol?
A proposta saiu da área de inovação da fábrica da Fiat em Betim (MG) há três anos e já está dando resultados positivos. A montadora instalou placas com células fotovoltaicas no teto de trinta carros, que inicialmente rodaram somente no interior da fábrica e numa segunda etapa nas ruas.
Trata-se, ainda, de uma experiência, mas com a queda dos preços das painéis de captação da energia solar, é possível que o sistema seja adotado comercialmente.
Não, a energia captada pelos paineis não substituirá o combustível usado para a propulsão do motor. Não se trata de um carro elétrico, longe disso. O objetivo da tecnologia é a redução do consumo e das emissões de poluentes: a energia captada é usada nas luzes do painel e faróis, vidros elétricos, ar-condicionado.
Os testes feitos até agoraregistraram economia de 3,5% no consumo, índice bastante significativo, quase o dobro do obtido por processo semelhante na Europa, onde a economia foi de 2%.
Isso graças não ao sistema em si, mas ao maior nível de radiação solar existente no Brasil. O País tem um potencial solar 70% maior. Aqui são 205 Watts por metro quadrado, enquanto na Europa são 120 W/m². No sol de meio dia no verão, o potencial no Brasil sobe para 1.100 W/m².
“Inovação é enxergar as coisas de uma forma diferente, fazer o diferente”, diz Matheus Bitarães, analista de Pesquisa e Inovação da FCA e responsável pelo desenvolvimento de ideias que surgem na própria empresa e que contribui para o melhor procedimento na linha de montagem, no processo produtivo, na manutenção da fábrica.
Seu colega Mateus Silveira, responsável pelo Future Insights, diz que “pensar diferente” é uma forma também de buscar soluções para a produção e o uso do carro. “Inovar não é apenas criar uma tecnologia, mas entender e melhorar a vida do consumidor”.
Silveira estuda o futuro das populações urbanas. Selecionou as 38 cidades brasileiras com mais de 500 mil habitantes e se debruça na resolução dos problemas de mobilidade, advindos do adensamento populacional.
Busca alternativas para novas formas de circulação, novos modais. E aí entra a questão de pensar diferente e não apenas a aposta nas novas tecnologias.
“O carro elétrico e o carro autônomo são as tecnologias do momento, e que já estão nas ruas, mas o problema é que tanto o elétrico quanto o autônomo provocam congestionamento do mesmo jeito”, diz, avaliando que é preciso pensar em soluções que essas novidades não se propõem a sanar.
Para Silveira, os sistemas de inovação têm que ser diversificados: “Não basta criar um veículo ideal,temos que pensar no pedestre. Todos somos pedestres pelo menos uma parte do dia. O espaço de maior valor é o espaço público”.
Têm que oferecer alternativas próprias: “Não dá pra importar soluções. Temos que criar nossos próprios modelos”.
Numa palavra, a proposta é buscar soluções dentro do âmbito das cidades e não achar que o aumento da infraestrutura vai resolver os problemas. Ao contrário, quando o poder público abre mais uma avenida, mais um túnel, mais um viaduto, incentiva o uso do carro e a consequência não é a redução dos congestionamentos, mas a ampliação deles.
“Ampliar a infraestrutura é como resolver o problema da obesidade afrouxando o cinto”, diz Mateus Silveira.
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