Mesmo em condições tão desafiadoras como as impostas pela Covid-19, o home office forçado implatando pela FCA em todas as suas operações mostrou um alto grau de comprometimento de seus colaboradores, com reflexo positivo sobre a produtividade e a capacidade de trabalhar em equipe mesmo remotamente. “O que vimos foi que conquistamos grandes resultados, mesmo em condições tão desafiadoras”, comenta Elaina Bittencourt, gerente senior de Recursos Humanos da FCA, Fiat Chrysler Automobiles.
Em entrevista ao AutoIndústria, ela fala das vantagens e desvantagens do teletrabalho, revelando a criação do Conceito FCA Anywhere, que norteará o trabalho na empresa a partir de agora. Dentre várias iniciativas, cita projeto piloto para o estabelecimento de parcerias com co-workings em regiões estratégicas, para compor um ecossistema funcional de trabalho remoto.
A empresa está garantindo todo o suporte para as pessoas trabalharem em casa, ao mesmo tempo que pretende valorizar momentos de encontro. “Afinal, somos humanos – individuais e coletivos ao mesmo tempo”, destaca Elaina.
Com 22 mil colaboradores diretos, sendo mais de 5,3 mil mensalistas, pesquisa realizada durante a pandemia mostrou que a supressão do deslocamento diário é um fator de comodidade e que o bem-estar dos colaboradores cresceu 78% comparado ao formato pré-trabalho remoto.
A FCA já decidiu pela implantação oficial do home office a partir de 2021? Há algum projeto piloto?
A FCA, mesmo antes da pandemia, já adotava o trabalho remoto com suporte da tecnologia, que chamávamos de Política de Home Office, um dia ou dois por semana em casos de colaboradores com filhos de um ano de idade. Mas a pandemia modificou completamente a forma como trabalhamos e nos relacionamos. Nosso desafio na gestão de equipes profissionais foi superar um cenário de incertezas e investir em flexibilidade e proatividade e o trabalho remoto é um componente importante da nova realidade. A FCA considera de modo muito intenso a diversidade como parte do nosso propósito e estratégia de negócio e, por isto, adotou o conceito de FCA Anywhere, que se baseia no reconhecimento da diversidade e aceitação da individualidade. Há uma enorme pluralidade de perfis, além da variedade de tipos de atividades executadas nas diferentes empresas do grupo. Levamos isto em consideração ao realizar um desenho sustentável, com práticas e tecnologias que acompanhem essa diversidade.
Na prática, então, não há uma fórmula única de home office?
É exatamente isso. Não propomos uma solução fechada, mas uma transformação que gere mais flexibilidade, colaboração e fluidez para o trabalho. Trabalhamos com uma metodologia com grande foco nas pessoas, que nos possibilita construir soluções de forma gradativa, testando hipóteses e aprendendo com a experiência dos colaboradores, sempre através da perspectiva da jornada do colaborador. Queremos expandir os espaços colaborativos e fazer parcerias com co-workings externos para apoiar o trabalho remoto, implementar horários mais flexíveis durante a jornada de trabalho, melhorar a experiência de mobilidade, dentre outros.
O home office envolverá um escalonamento para misturar trabalho presencial com o remoto?
O FCA Anywhere traz a proposta de fluidez e flexibilidade, pensando em um modelo híbrido, que considere necessidades da empresa e colaborador, ampliando as opções. Há colaboradores que, devido à natureza de seu trabalho, necessitam estar fisicamente presentes ao menos uma parte da semana. Há outras pessoas que têm preferência individual por trabalhar todos os dias em uma unidade FCA. Há também aqueles que podem exercer suas funções integralmente de modo remoto com o mesmo nível de qualidade de entregas e interação. Queremos contemplar diferentes possibilidades em nosso modelo.
Há limitações na legislação trabalhista para utilizar o trabalho a distância?
Este tema é novo inclusive para os legisladores e para a Justiça. Por isto, nosso Departamento Jurídico integra o grupo que formata o modelo, para avaliar a viabilidade legal das propostas. A reforma trabalhista de 2017 contemplou a nova modalidade de trabalho, o teletrabalho, com lei própria assegurando garantias aos empregados e empregadores dessa nova modalidade. Da mesma forma, a OIT, Organização Internacional do Trabalho, reconhece o teletrabalho. Estudamos as possibilidades e implicações, reconhecendo que este é um tema novo, mas que vai-se consolidar como tendência.
Antes da pandemia havia algum esquema de trabalho remoto?
Tinha só para pais e mães com filhos de até um ano, como já comentei, além do day off de aniversário. Mas a FCA já buscava maior flexibilidade e práticas contemporâneas para fazer o trabalho fluir entre nossas equipes na América Latina. Vimos surgir nos últimos anos espaços de trabalho compartilhados em nossas plantas, como o Communication Center, Development Center e o Hub, que reúnem equipes multidisciplinares em espaços comuns e abertos, inspirando colaboração e agilidade.
Quais as principais vantagens e desvantagens do teletrabalho?
A pandemia acelerou a quebra de paradigmas quanto ao trabalho remoto. Já pensávamos que era uma boa prática, mas ainda não tínhamos testado de modo abrangente como ocorreu na pandemia. O que vimos foi que conquistamos grandes resultados, mesmo em condições tão desafiadoras. As pessoas da FCA demonstraram um alto grau de comprometimento, talento e capacidade de manterem-se engajadas. A liderança foi treinando e, aprimorando a forma de se conectar com a equipe e, estar próximo mesmo que virtualmente para suportar eventuais necessidades. Isto se refletiu positivamente sobre a produtividade e a capacidade de trabalhar em equipe mesmo remotamente. Mas há pontos de atenção. Um desafio é manter a conexão com a cultura da empresa e a marca quando não temos o convívio físico diário em um mesmo ambiente. É preciso repensar como são construídos os elos de pertencimento e engajamento. É claro que isto pode ser feito sem a presença física constante. Mas é algo a ser aprimorado. Da mesma forma, é preciso criar e valorizar momentos de encontro. Afinal, somos humanos – individuais e coletivos ao mesmo tempo.
Dá para dimensionar a redução de custo que a medida propicia?
A ampliação do trabalho remoto permite repensar espaços físicos e sua gestão. Isto envolve custos, mas, principalmente, consome capacidade de gestão da empresa que poderia estar totalmente alocada ao core business. Há aí, portanto, um viés de melhora do desempenho da empresa, por concentração de esforços em sua atividade fim. Ainda pensando em sustentabilidade, o trabalho remoto reduz a demanda por mobilidade e consequentes emissões e, portanto, reduz a pegada ambiental da empresa. Por outro lado, é importante manter espaços compartilhados internos ou externos, que propiciem conexões, gerando ideias e novos negócios.
Qual a infraestrutura que a empresa oferece para quem vai trabalhar em casa?
A FCA está atuando em várias frentes. A primeira preocupação são os cuidados com ergonomia. Especialistas da área compartilham com todos os colaboradores, através de email, lives e outros canais, orientações e dicas de utilização correta de periféricos. Oferecemos treinamento em Ergonomia Cognitiva a 100% colaboradores. Cada colaborador pode escolher os itens que compõem seu kit básico de ergonomia, com itens que o ajudam a ter mais conforto e segurança no trabalho. Outra vertente é o suporte de ICT. Estamos acelerando a maturidade digital da companhia, melhorando as práticas de utilização de ferramentas e de suporte remoto. Também intensificamos a comunicação sobre saúde e bem-estar, estimulando a prática de exercícios físicos e a alimentação saudável, com atividades físicas virtuais, além de tratar abertamente da importância do bem-estar emocional e psicológico, abrindo canais especializados para atendimento e orientação, além de sessões mindfulness, diálogos sobre ansiedade, burnout etc. Outra iniciativa que está em piloto é o estabelecimento de parcerias com co-workings em regiões estratégicas, para compor um ecossistema funcional de trabalho remoto.
Há melhoria na qualidade de vida do funcionários principalmente pelo fato dele livrar-se do estresse do trânsito?
Este é um ponto-chave de nossa estratégia: fazer a experiência do empregado mais fluida e equilibrada. Ouvimos e analisamos o que as pessoas têm a dizer sobre sua experiência, para poder aprimorá-la. Em setembro, realizamos pesquisa sobre o trabalho remoto com 360 líderes, refletindo sobre o que ocorre em suas equipes. Sem dúvida, a supressão do deslocamento diário é um fator de comodidade. Houve melhoria na percepção de crescimento em colaboração, qualidade das entregas e bem-estar dos colaboradores. Este último indicador cresceu 78%, comparado ao formato pré-trabalho remoto.
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Foto: Divulgação/FCA
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Engraçado que o funcionário mesmo não teve acesso ainda a essas informações.