Depois de dois anos consecutivos de declínio, o setor de locação de veículos no Brasil encerrará 2017 finalmente com números crescentes — e muitos expressivos. Paulo Nemer, presidente da ABLA, a Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis, calcula evolução de 25% a 27%, com a frota beirando os 700 mil veículos. Nesta entrevista exclusiva ao AutoIndústria, o digigente vai mais além e afirma que, mantido o atual ritmo do mercado as condições macroeconômicas, tem a convicção de que 2018 será melhor ainda e que, em algum momento entre 2019 e 2020, as locadoras poderão chegar à frota recorde de 1 milhão de veículos. A economia e os empresários, justifica o executivo, se desprenderam da política, cansados do que acontece em Brasília. “O avião apontou o bico para cima.”
Por George Guimarães
O setor de locação exibe números positivos no acumulado até agosto. Essa recuperação será mantida até dezembro?
Sim,melhoraram bastante e posso dizer que são consistentes. A recuperação deve ser ainda maior ao fim do ano, já que o terceiro quadrimestre é historicamente o período em que as locadoras renovam suas frotas. Acredito em crescimento da ordem de 25% a 27% sobre o 2016, para algo próximo de 700 mil veículos.
Há algum fator especial para essa retomada?
Nosso setor está intimimamente ligado ao andamento da economia. Os juros hoje estão em patamares mais condizentes e a própria economia e os empresários se desprenderam da política. Precisamos trabalhar independente do que acontece em Brasília. O avião apontou o nariz para cima. Outro fator é que com a crise muitas empresas desmobilizaram suas frotas próprias e descobriram que é melhor pagar pelo uso do que pela propriedade.
Essa percepção de momento favorável vale também para 2018?
Sim, devemos crescer mais em 2018 e, se as condições econômicas não mudarem, a frota do setor poderá chegar a 1 milhão de veículos em 2019 ou 2020. É bom lembrar também que, com a drástica queda da produção de veículos a partir de 2014 ,as montadoras resolveram reduzir os descontos que normalmente concedem ao nosso setor. Agora, com a recente retomada da produção, estamos recuperando um pouco esses descontos ao mesmo tempo em que os juros estão mais condizentes. O quadro, enfim, está melhor. Mas o Brasil é bipolar [risos], podemos acordar amanhã com situação totalmente diversa.
Qual a participação das locadoras no mercado interno de veículos?
Estamos próximos de 14% no acumulado até agosto, com mais de 185 mil veículos adquiridos [ao longo de 2016 foram quase 218 mil unidades]. Os investimentos no nosso setor voltaram!
E qual o potencial de mercado de locação no Brasil?
Locação é uma questão cultural. Estamos apenas começando a descobrir que é mais racional pagar pelo uso do que pela propriedade. Hoje, para se ter uma idéia, existem cerca de 10 milhões de veículos registrados em CNPJs. Portanto, considerarmos 700 mil veículos em 2017, há ainda muito o que crescer. Cada locadora pode crescer dez vezes que ainda assim não incomodará o concorrente. Fora que há mercados novos, como grandes empresas que estão alugando motocicletas para suas frotas. E as locadoras já são também as maiores clientes das montadoras de caminhões, é bom lembrar.
Recentemente uma grande locadora absorveu outra especializada na locação de veículos de luxo. Há um movimento de consolidação no setor?
Negócios desse gênero são naturais. Temos ainda mais de 7 mil locadoras em cerca de 6 mil municípios. Portanto, não vejo qualquer risco para as empresas pequenas, que são a maioria.
Empresas de serviço como o Uber atrapalham o negócio de locação?
Ao contrário, o Uber é um grande cliente das locadoras, um mercado novo para elas. Assim como o de pessoas físicas nos grandes centros, como São Paulo e Rio de Janeiro. Essa já é uma tendência bem perceptível. Muita gente está descobrindo que é mais barato, e inteligente, pagar pelo uso do que ter um carro próprio, o que envolve seguro, IPVA, manutenção, dentre outros custos. Estudos mostram que nessas cidades um automóvel fica 95% de seu tempo parado nas garagens e estacionamentos durante a semana. E tem crescido inclusive o índice de desmobilização de estacionamentos devido à alta ociosidade, sinal de que as pessoas estão deixando cada vez mais os carros em casa.
Fotos: Divulgação/ ABLA
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