Entre informações e desinformações, nada está muito claro sobre o que será divulgado no dia 25, quinta-feira da semana que vem, pelo MDIC, Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, a respeito da proposta de resgatar o antes chamado carro popular, agora apresentado pela Anfavea como carro verde de entrada.
O que se tem de concreto é uma natural expectativa no mercado sobre uma eventual redução no preço do 0 km, o que tende a provocar um recuo nas vendas. Fonte do setor informou que as locadoras, por exemplo, suspenderam todas as compras a partir desta semana à espera do que será divulgado pelo governo na próxima semana:
“Entre as discussões em curso, consta que a ideia é fazer uma reestruturação dos descontos, com índices maiores para os carros mais baratos a fim de movimentar a base da pirâmide. Ou seja, há uma expectativa de que os preços em geral caiam e não faz sentido, assim, fechar negócios nesta e na próxima semana”.
O raciocínio, em tese, também vale para o consumidor comum, que pode adotar a mesma postura até que o governo anuncie oficialmente quais serão as medidas de incentivo ao mercado automotivo brasileiro, conforme prometido pelo ministro do MDIC, Geraldo Alckmin. Até porque são avaliadas linhas de financiamento com juros mais baixos e prazos de até 60 meses para movimentar o varejo.
Após o anúncio da reunião do dia 25, que se tornou público no sábado, 13, em reportagem publicada na Folha de S.Paulo, poucos executivos do setor estão querendo comentar o assunto do “popular” oficialmente.
É sabido que há um racha na Anfavea — porque nem todas as montadoras têm carro de entrada para participar de cara de um projeto do gênero — e também não é confortável a situação da Fenabrave, que dizem ter sido a responsável pela proposta de resgate do carro popular, o que nunca foi efetivamente comprovado.
Até porque a Fenabrave, por representar os concessionários, não é responsável pelo desenvolvimento do produto e tampouco pela composição dos preços. Aí entra, inclusive, o debate sobre o que seria um carro popular hoje, visto que vários avanços em segurança, que encarecem o preço dos veículos, são itens definidos em lei e não têm como ser negociados.
Enfim, o que se questiona é se há espaço para um carro abaixo dos R$ 70 mil, que é o preço das versões mais baratas do Fiat Mobi e Renault Kwid, os mais acessíveis hoje do mercado brasileiro. Há como reduzir impostos e margens?
Carro popular já existe
Se depender de um concessionário que há anos atua no setor de distribuição, a resposta é simples: “O carro popular já existe. É só aplicar o desconto de 18% concedido às locadoras que os dois modelos de entrada comercializados hoje no Brasil passarão a custar perto de R$ 57,4 mil, ou seja, a faixa que está se propondo para o dito carro verde de entrada (de R$ 50 mil a R$ 60 mil)”.
Aí entra a velha discussão entre concessionários e locadoras sobre as vantagens das vendas diretas, aquelas que, além de serem beneficiadas com descontos das montadoras, pagam os impostos em cima do preço real e não do preço de tabela praticado pela montadora na hora que repassa o carro para a concessionária.
Segundo informações de algumas locadoras, os descontos praticados pelas fabricantes de veículos hoje para o segmento estão na faixa de 10% a 18%. Em geral, o índice maior vale para as grandes do setor, aquelas que compram em maior quantidade.
É significativa a demanda por carros de entrada no setor de locação. Segundo a fonte ouvida por AutoIndústria, os modelos básicos são adquiridos sempre “com direção e ar-condicionado”, com o Mobi e o Kwid, por exemplo, saindo para as locadoras com esse opcionais por um preço na faixa de R$ 72 mil.
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Em 2022, o segmento de locação respondeu por 30% das vendas totais do setor automotivo, índice que este ano está entre 20% e 22%. A idade média da frota das locadoras, que chegou a 30 meses em 2021, já foi reduzida para 22 meses e não necessariamente as empresas da área vão seguir comprando no mesmo ritmo a partir de agora.
Ao contrário, a informação é de que não há mais espaço para as locadoras contribuírem para evitar queda maior no negócio das montadoras. Não há mais necessidade de manter o ritmo de compras anterior. A não ser, claro, que os fabricantes aumentem os descontos a elas concedidos. Se é que isso é possível, porque não reduzir o preço para o consumidor final e melhorar as condições de compra no mercado brasileiro?
Foto: Pixabay
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